Menino
da safra de 1952, comecei a trabalhar já tarde, por volta de 1975, dois anos
antes de me formar, já batalhando na Medicina. Portanto, tendo me aposentado em
2014, completei 39 aninhos de labuta. Mesmo não tendo tido um casamento dos
sonhos com a Medicina, exerci minha profissão com empenho e dedicação, fora um
tanto de “cara feia”, às vezes, por não estar onde queria. Assumo a
responsabilidade do meu, digamos, equívoco, mas levei a sério o meu trampo.
* Aqui, tento "explicar" o meu equívoco:
Trampei
pacas, sendo que me recordo até de uma ocasião onde, recém-casado (1979),
cheguei a dormir por uma semana fora de casa, já que pulava entre os plantões
aqui e ali. Ou seja, meu quinhão já foi dado. Sem Lei Rouanet ou algo do
gênero, trampei por quase 40 anos!
Hoje,
vivo no ócio. Para alguns, “vagabundeando”. São só uns meros alguns, sem a
menor importância. Hoje, curto meu ócio. Por direito adquirido.
Quando
pensei neste tema, comecei, como sempre, pesquisando um pouco mais a palavra
que aqui iria usar: ÓCIO. Fui ao dicionário etimológico e lá encontrei:
“A palavra negócio vem da combinação de nec +
otium. No latim, otium é descanso, lazer, e a partícula nec é um advérbio de
negação. Praticar o não-ócio é negociar, trabalhar para, depois, dedicar-se ao
que é positivo: viver em paz.”
Sendo
assim, é fácil perceber que hoje não “negocio” mais. Não trabalho mais para
depois... Simplesmente vivo o ócio em sua plenitude.
Houve
um baque ao aposentar-me? Claro que sim. É normal que estranhemos que, do dia
para a noite, não temos mais compromissos com relógio e afins. Meu horário faço
como me convém, no dia. Se quiser acordar às 5 da manhã em pleno domingo, por
exemplo, simplesmente acordo. Se quiser dormir até meio-dia em plena
quarta-feira, idem!
Como
costumo dizer, tornei-me “rico”. Rico quando me recordo que, com o passar dos
anos, acabei definindo pobre como
“aquele que acorda antes do horário que seu corpo gostaria de acordar.”
Independente do quanto entra de $$ em sua conta bancária ao final do mês: 1,
10, 100 ou 1000. Se para isso teve que ir contra ao desejo do seu corpo e
levantou da cama contra a vontade do mesmo, em nome do $$ do final do mês, este
alguém é “pobre.” Acordar antes do horário que o corpo pede para acordar, é o
mesmo que comer sem fome, beber sem sede ou mesmo ir ao banheiro dar uma
mijadinha, sem nada na bexiga(rs). Não dá boa coisa. É algo absolutamente antinatural.
Hoje
o meu ócio é todo ele voltado para o prazer. Para o lazer. Prazer e lazer, não
pedem horas ou dias específicos. O “Saturday Nigth Fever” é coisa de quem só tem mesmo o final de semana para
divertir-se. Depois, vem sempre a famigerada segundona e o trampo ali,
esperando por você, com seu cartão de ponto e/ou reuniões mil para correr atrás
do din-din.
Nada
contra aquele/a que segue sentindo prazer e tesão, mesmo após anos de labuta,
pular da cama quando o despertador toca,
às seis da manhã de uma chuvosa segundona, para correr pro trampo. Não
só não tenho nada contra, como invejo aqueles que assim são. São seres
privilegiados e formam a exceção da exceção. Invejo aquele que, como o Cauby Peixoto, que agora nos deixou, cantou até morrer. Praticamente morreu no palco, em seus juvenis 85 anos, vivendo seu "Bastidores". Não sendo você um Cauby, repense sobre o que anda fazendo com a sua vida. Reflita um pouco mais sobre suas prioridades. Não fosse assim, o horário que vem
logo após o término do trampo não se chamaria happy-hour. O happy-hour é o
despertador avisando que acabou o castigo. Hora então de sermos felizes. Caso
você se encaixe na exceção das exceções, eleve as mãos aos céus. Caso
contrário, repense seu painful time!
No
mínimo, faça como certa ocasião ouvi o Ludwig Waldez dizer: “Você não precisa, necessariamente, fazer
aquilo que ama. Mas, ao menos, ame aquilo que faz!”
Por
isso, repito aqui: hoje, não “negocio” mais! Hoje, sou um ocioso. Hoje, vivo em
paz!
Deixe
de ser platônico, carinha. Eu, por exemplo, já desisti da Fernanda Lima ou mesmo da Diana Krall. Azar delas (rs).
Relembrando o sempre genial Millôr Fernandes, “quem se mata de trabalhar não merece mesmo
viver!”
2 comentários:
muito bom o blog. além de gostar, identifico-me muito com os textos e pensamentos
abraços de um calouro de medicina, também, hahaha
Agradeço pelos elogios! Boa sorte também em sua árdua tarefa como discípulo de Esculápio(rs). Abraço
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