Li mais
esta obra-prima do Saramago, por volta de dois mil e pouco (não me recordo da
data exata) e lembro-me perfeitamente desta frase que (acho) estava no
prefácio:
“Se
podes olhar, vê. Se podes ver, repara”
Ela me
chamou a atenção na mesma hora. Acordei para a distância enorme que existe
entre VER e REPARAR. Muitas vezes vemos mas não reparamos. Simplesmente
“vemos”. Um estímulo que alcança a nossa retina, é decifrada como algo (objeto,
lugar, pessoa) e nada mais do que isso.
Amei o
livro. Pesado, (hiper)carregado, assustador, mas poético. Ao final, uma única
pessoa que não foi afetada pela cegueira, conseguiu reverter toda a situação. O
ser humano estava salvo da sua mediocridade e cegueira!
Lembro-me
agora (neste exato instante), de outro livro e outra passagem do Saramago. É
uma passagem do livro “A Caverna” (acho que o mais lírico dele) onde em um
certo instante, estão pai e filha caminhando por um lugar ermo, afastado e
desconhecido deles, quando encontram um cão andando por ali. Pai e filha
resolvem então que vão pegá-lo e adotá-lo, já que aquele encontro não foi uma
mera casualidade. Ele aconteceu por algum motivo e alguma razão.
Assim
eles fazem: retornam da caminhada com a companhia do cão. Durante a caminhada,
ficam combinando que nome eles darão ao cão. Um deles (não me recordo se o pai
ou a filha) sugere que ele se chame PERDIDO, pois era desta forma que ele(a)
via o cão. O outro, que além de enxergar, reparou, discordou e disse que ele
deveria chamar-se ACHADO, já que, perdidos estavam eles dois, no meio daquele
nada e sem vida. Encontrar aquele cão, naquele lugar perdido, rodeado de nada,
foi nada mais nada menos do que um enorme ACHADO.
A nossa
vida é permeada de acontecidos como esse. A vida sempre nos reserva surpresas;
tanto boas qto outras nem tanto. Ou até mesmo doloridas e que nos derrubam. Mas
ao mesmo tempo é interessante notar que as surpresas desagradáveis, com muita
facilidade nos marca, deixa cicatrizes que demorarm tanto p/ desaparecer (ou
até ficam para sempre), enquanto que as boas surpresas nos agradam, nos enchem
de alegria, nos faz um bem tremendo...e depois se vão, deixando, no máximo, uma
lembrança gostosa e nostálgica de um breve momento onde estivemos bem. Não é do
nosso feito dizer que temos “cicatrizes” de momentos memoráveis. Estes momentos
são curtidos quando ocorrem...e depois se dissipam rapidamente no ar! Estranha
mais esta nossa faceta, né não?
Assim
como li certa vez em um livro do Gikovate (Ensaio –outro, mas que não é do Saramago rs Sobre O Amor E A Solidão) onde
ele diz que, em sua vasta e longa experiência, cansou de ver gente que, ao ler
o que ele Gikovate diz sobre o assunto x, concorda em gênero, número e grau, se
“convencendo” (com muitas aspas) que é mesmo aquilo que ele deve fazer com/em
sua vida. Descobre a América, tal como Colombo. Mas depois, assim que a leitura
termina e o(a) leitor(a) volta para a sua vidinha aqui de fora....segue fazendo
o oposto daquilo que, meia-hora atrás, convenceu-se que era o certo e
necessário.
Este
leitor (a maioria de nós) assim age. Lê (enxerga) mas não pratica (repara).
Por tudo
isso seguimos ainda em um mundo com tanta escuridão. Por isso ainda somos pegos
de calça-curta. E assim, o nosso Santo Graal seguirá em L.I.N.S.
Hora de
acordar!!
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