Nada como um belo e ensolarado domingo...para
não ir à praia (rs). Se ir à praia é a sua “praia”...vá! Básico.
Estou tirando o meu domingo
para, mais uma vez, me contradizer por completo. Adoro me contradizer (rs). Se
for por algo que amo, farei isso quantas vezes quiser. Básico 2!
Vou me contradizer em tudo
que disse no tópico PARANDO. Mas...”veja bem”, não será assim tão completo
minha contradição. Só parcial. Disse que quero aprender a ser enxuto e quero
mesmo. Tentarei.
A contradição está no fato
de que este tópico será o mais longo e com um dos vídeos mais demorados também de
todo o meu blog. Só isso, gente!
Quem se assustar com o
tamanho do texto e do vídeo...vá curtir a sua praia; ou a sua “praia”, qualquer
que seja ela. Vou fazer deste modo, porque é o meu desejo. Básico 3! (e chega de basicalidade também; cansei!)
Ele ficará longo pois
resolvi juntar um time de futebol de salão, todos meio bruxos (o Zeca foge um
pouquinho, mas chegará lá), em uma torre de Babel que construí.
Juntei Clóvis de Barros
Filho, Jards Macalé, Walter Franco, Nelson Rodrigues e Zeca Baleiro. Que puta
salada!
Quem xeretar bem o meu blog
verá homenagens minhas a quase todos eles. É só xeretar. Se quiser. Se voltar
muito queimadinho da praia, quem sabe!
Misturei canalhas e
“canalhas”; Declaração Universal dos Direitos dos Homens, retirada do show “O
Banquete dos Mendigos”, e cinco bruxos, cada qual na sua área; na praia de cada
um deles. Canalha com significados diversos. Dor, mau-caratismo ou o que você
quiser....
Por isso, sigo na minha
também. Estou por aqui, curtindo fazer este post; e muito bem acompanhado, por
quem vocês já sabem. Se ainda não sabem...vocês são uns CANALHAS que não seguem
meu blog.
Chega. Tentando seguir
enxuto.
Passo a bola para os 5
bruxos!!
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Quando soube que a
noiva tinha viajado de lotação com o Dudu, sentada no mesmo banco, pôs as mãos
na cabeça:
— Com o Dudu?
E ela:
— Com o Dudu, sim.
As duas mãos
enfiadas nos bolsos, andando de um lado para outro, ele estaca, finalmente,
diante da pequena:
— Olha, Cleonice,
vou te pedir um favor de mãe pra filho. Pode ser?
— Claro.
Puxa um cigarro:
— É o seguinte: de
hoje em diante, ouviu?, de hoje em diante, tu vais negar o cumprimento ao Dudu.
Admirou-se:
— Por que, meu
anjo?
Ele explicou:
— Porque o Dudu é
um cínico, um crápula, um canalha abjeto. Um sujeito que não respeita nem poste
e que é capaz até de dar em cima de uma cunhada. O simples cumprimento de Dudu
basta para contaminar uma mulher. Percebeste?
— Percebi.
Ainda excitado,
ele enxuga com o lenço o suor da testa:
— Pois é.
Passou. Mas a
verdade é que Cleonice ficou impressionadíssima. Dava-se com o Dudu, sem
intimidade, mas cordialmente. Dançara com ele umas duas ou três vezes. Mas
como o Dudu fosse fisicamente simpático e educadíssimo, Cleonice guardara dos
seus contatos acidentais uma boa impressão. Caiu das nuvens ao saber que ele
era capaz de “dar em cima de uma cunhada”. Teria, porém, esquecido. Voltando à
carga, sentado com a noiva num banco de jardim público, ele começa:
— Meu anjo, tu
sabes que eu não tenho ciúmes. Não sabes?
— Sei.
Pigarreia:
— Só tenho ciúmes
de uma pessoa: o Dudu. E nunca te esqueças: é um canalha, talvez o único
canalha vivo do Brasil. Todo mundo tem defeitos e qualidades. Mas o Dudu só
tem defeitos.
Inexperiente da
vida e dos homens, ela fazia espanto:
— Mas isso é
verdade? Batata?
Exagerou:
— Batatíssima!
Quero ser mico de circo se estou mentindo! — E repetia, num furor terrível e
inofensivo: — Indigno de entrar numa casa de família!
OBSESSÃO
Então, sem querer,
sem sentir, Lima foi fazendo do Dudu o grande e absorvente personagem de suas
conversas. Argumentava:
— Você é muito
boba, muito inocente, nunca teve outro namorado senão eu. Queres um exemplo?
Sou teu noivo, vou casar contigo. Muito bem. O que é que houve entre nós dois?
Uns beijinhos, só. É ou não é?
Impressionada,
admitiu:
— Lógico!
Lima continua:
— Figuremos a
seguinte hipótese: que, em vez de mim, fosse teu namorado o Dudu. Tu pensas
que ele ia te respeitar como eu te respeito? Duvido! Duvido! Dudu não tem
sentimento de família, de nada! É uma besta-fera, uma hiena, um chacal!
Crispando-se,
Cleonice suspira: “Parece impossível que existam homens assim”. Lima prossegue:
“Vou te dizer uma coisa mais: o Dudu olha para uma mulher como se a despisse
mentalmente!”.
A FESTA
Dias depois,
Cleonice está conversando com umas coleguinhas quando alguém fala do Dudu.
Então, ela olha para os lados e baixa a voz: “Ouvi dizer que o Dudu deu em cima
de uma cunhada!”. Uma das presentes, que conhecia o rapaz, a família do rapaz,
protesta: “Mas o Dudu nem tem cunhada!”. Mais tarde a espantadíssima Cleonice
interpela o Lima. Ele não se dá por achado:
— Eu não disse que
o Dudu deu em cima de uma cunhada. Eu disse que “daria” caso tivesse. Você
entendeu mal.
Mais alguns dias e
os dois vão a uma festa, em casa de família. Entram e têm, imediatamente, o
choque: Dudu estava lá! Junto de uma janela, com o seu bonito perfil, fumando
de piteira, pálido e fatal, atraía todas as atenções. Lima aperta o braço da
noiva. Diz, entredentes: “Vamos embora”. Ela, espantada, pergunta: “Por quê?”.
O noivo a arrasta:
— O Dudu está aí.
E não convém, ouviu? Não convém! Imagina se ele tem o atrevimento de te tirar
para dançar. Deus me livre!
O MEDO
Na volta da festa,
Cleonice faz, pela primeira vez, um comentário irritado:
— Fala menos nesse
Dudu! Sabe que eu só penso nele? Te digo mais: tenho medo!
Lima estaca: “Medo
de que e por que, ora essa?”. Ela parece confusa:
— Essas coisas
impressionam uma mulher. — E repete o apelo: — Não fala mais nesse cara! É um
favor que te peço!
Ele obstinou-se:
“Falo, sim, como não? Você precisa olhar o Dudu como um verme!”. Cleonice
suspirou:
— Você sabe o que
faz!
ÓDIO
Corria o tempo.
Todos os dias, o Lima aparecia com uma novidade: “Vi aquela besta com outra!”.
E se havia uma coisa que doesse nele, como uma ofensa pessoal, era a
escandalosa sorte do “canalha” com as outras mulheres. Nos seus desabafos com
a noiva, Lima exagerava: “Cheio de pequenas! Tem namoradas em todos os
bairros!”. Um dia, explodiu:
— Vocês, mulheres,
parece que gostam dos canalhas! Por exemplo: o meu caso. Sem falsa modéstia,
sou um sujeito decente, respeitador e outros bichos. Pois bem. Não arranjava pequena
nenhuma. Até hoje não compreendo como você gostou de mim, fez fé comigo e me
preferiu ao Dudu. — Pausa e baixa a voz, na confissão envergonhada: — Porque o
Dudu me tirou todas as outras namoradas, uma por uma.
Era essa, com
efeito, a origem do seu ódio por Dudu, do despeito que o envenenava.
AS BODAS
Chega o dia do
casamento. Poucos minutos antes da cerimônia civil, Lima, transfigurado, ainda
diz ao ouvido da noiva: “O Dudu roubou todas as minhas pequenas, menos você!”.
Pois bem. Casam-se no civil e, mais tarde, no religioso. Quase à meia-noite,
estão os dois sozinhos, face a face, no apartamento que seria a nova
residência. Ele, nervosíssimo, baixa a voz e pede: “Um beijo!”. Ela, porém,
foge com o rosto: “Não!”. Lima não entende. Cleonice continua:
— Falas te tanto e
tão mal do Dudu que eu me apaixonei por ele. Eu não trairei o homem que eu amo
nem com o meu marido.
Lima compreendeu
que a perdera. Sem uma palavra deixa o quarto nupcial. De pijama e chinelos
veio para a porta da rua. Senta-se no meio-fio e põe-se a chorar.
(Nelson Rodrigues)
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Nelson Rodrigues: http://simbolofalicoeocacete.blogspot.com.br/2013/11/meus-gurus.html
Clóvis de Barros Filho: http://simbolofalicoeocacete.blogspot.com.br/2014/04/como-conheci-o-homi_11.html
Banquete dos Mendigos (show
de 1974 – completo – 1h22m)
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