O texto que virá a seguir, já foi postado por
mim aqui, em alguma data que, por pura falta de saco, nem fui procurar quando
isso aconteceu. Até porque, vou repetí-lo e, além disso, na ocasião acho que
coloquei só o texto, não me estendendo sobre o assunto.
Hoje quero falar um pouco mais sobre ele. Como
outro dia pensei em abrir um tópico que se chamaria "Amor &
Sexo", infelizmente sem a presença da Fernandinha Lima, mas que não
vingou, falarei sobre ele. Este tal do séquiço" e ele nos relacionamentos
amorosos. Ou ao menos nos pretensamente amorosos.
Sendo assim, quero "casar" o sexo com
os relacionamentos de nossas vidas!
No fundo, logo de cara, vejo que ambos foram,
muitas vezes, pedras no meu sapato. Me perdia tanto no terreno dos
relacionamentos, qto no terreno do sexo, estivessem eles dois no mesmo barco ou
não. Até porque, para o meu azar, a maioria das vezes eles navegavam em barcos
distintos. Infelizmente.
Gosto e curto o sexo. Gosto e curto nosso lado
sexual. Nossa sexualidade. Gosto e curto
a minha sexualidade mas, quem sabe que por excesso de minhocas nesta cabeça,
muitas vezes acabava enfiando os pés pelas mãos, sem qualquer referência aqui a
alguma nova posição do Kama-Sutra (rs)!
Como uma vez me perguntaram, na lata: "Paulo, você já foi p/ cama com todas
as mulheres que desejou?" Eu, sem pestanejar, respondi: "Com todas as mulheres que desejei, com
certeza não. Mas já fui p/ cama com algumas tantas que NÃO desejei!"
Perguntinha básica: se NÃO desejou, por que foi?
Pois é, a pergunta pode até ser básica, e é, mas
a resposta.... é, para mim, um enorme
cipoal! É uma areia movediça onde não consigo me mover direito, ou quase nada.
Onde não consigo caminhar. No máximo manter a cabeça para fora (tb sem
referir-me aqui ao Kama-Sutra rs), para não ser dragado e sugado por ela!
Parecia que eu dicotomizava a coisa: sexo e
relacionamentos amorosos são coisas distintas. Há até os defensores desta tese.
Discutível tese. Gente até do porte do Gikovate (a quem admiro e sou fã) que
diz que, os pombinhos apaixonados, quando vão p/ a cama, eles vão TREPAR!
Depois da trepada eles voltam a ser pombinhos apaixonados.
Também tinha, em algum lugar desta louca
cabecinha (sem Kama-Sutra aqui, gente. O papo é sério), que eu ainda tinha
muito o que aprender sobre este binômio sexo & relacionamento. Lembro-me
muito bem de uma passagem do livro "Sexus", do Henry Miller, onde eu
via que cada parágrafo ali estava sendo escrito para o Paulo. Cada parágrafo
ali estava falando (na verdade dando o maior esporro) com o Paulo.
Este esporro eu levei no longínquo ano de
oitenta e qquer coisa. Faz tempo pacas! Nunca me senti tão esculachado lendo um
"mero" livro.
Para meu azar (parte 2), não me modifiquei tanto
quanto gostaria de ter me modificado, dos anos 80 até beirar meus 63 aninhos.
Ou seja, até os dias atuais. Até este ano de 2015 que veio p/ ser o marco da
minha mudança.
Mas, voltando ao texto que virá a seguir:
concordo com ele em gênero, número e grau! O tesão e o prazer que o sexo nos
proporciona, que é um fato, vai adquirindo outra roupagem quando você olha mais
prá frente. Quando você faz um exercício de imaginação, vendo-se chegar à
velhice! Com crase ou sem. Vendo chegar a velhice. Salvo quem o
"hómi" chamar antes, todos chegaremos nela. Ela chegará para todos
nós!
Aí, meu amiguinho, quem será o/a parceiro/a
ideal para você? Aquele que tem tesão em manter com você uma conversa sem fim.
Aquele parceiro perfeito para uma partida de frescobol. Aquele que faz o outro rir; que ri junto. Que se divertem
juntos! Aquele que traz leveza para a nossa alma! Um parceiro lúdico, leve,
ligth, brincalhão e absolutamente sério!
Quantas tolas partidas de tênis jogamos em
nossas vidas! Quanto desperdício de aparentes e enganosas vitórias vamos
acumulando em nossas vidas! Quão pouco jogamos frescobol! Quão pouco cuidamos,
com o maior carinho, do(s) sonho(s) do outro!
Faltando o tesão do conversar, o que sobrará?
Ou, como já dizia o "velho Cyro" meu
paipai do divã:
" - Os dois, estando em um bom dia, em um
dia iluminado, terão um sexo esplêndido, por uma hora. Sessenta minutos do mais
puro prazer. E??? E as outras 23 horas do dia??? Espera, pacientemente, chegar
o novo momento iluminado??
Trocar 23 por 1 não me parece ser algo
vantajoso.
Sigo curtindo o sexo. Concordo também com o
Millôr quando ele diz que..." de todas as aberrações sexuais, a
abstinência é a mais estranha!"
Mas ainda quero viver um dia de 24 horas. Um dia
onde eu some 23 mais 1!
Quero jogar muito frescobol!!
Me ver novamente jogando tênis? Ganhar Roland
Garros? Derrotar o outro?
Dá uma pena ver de novo!!
Deixo pro Guga. É a praia dele!
Sem mais delongas, segue aqui o texto que me
"inspirou" esta prosa.
Ao texto.
XERAZADE
Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os
casamentos são de dois tipos: há os do tipo tênis e os do tipo frescobol. Os
casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam
sempre mal. Os do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter
vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietszche,
com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade
do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria
capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a velhice? Tudo o mais no
casamento é transitório mas as relações que desafiam o tempo são aquelas
construídas sobre a arte de conversar”.
Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados
nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação,
pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente. Terminam na morte, como no
filme “Império dos sentidos”. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama,
e o amor não mais se podia dizer através dele, Xerazade o ressuscitava pela
magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria
durar mil e uma noites. Há carinhos que se fazem com o corpo e há os que se
fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes,
fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: “Eu te amo,
eu te amo...Barthes advertia:”Passada
primeira confissão “”eu te amo”” não quer dizer mais nada”. É na
conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica,
mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: Erótica é a
alma”!
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo
é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi
incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom
jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário e é
justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva
que indica o seu objetivo sádico, que é de cortar, interromper, derrotar. O
prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não
pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina
sempre com a alegria de um e a tristeza do outro.
O frescobol se parece muito com o
tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é
preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que
não foi de propósito e quem recebe faz o maior esforço do mundo para devolvê-la
gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário
porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha.
E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém
erre. O erro de um, no frescobol, é como a ejaculação precoce: um acidente
lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e
vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o
erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este
delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias,
irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho
pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos
como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.
Camus anotava no seu diário pequenos
fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos
Primeiros cadernos, é sobre esse jogo
de tênis:
“Cena: o marido, a mulher, a galeria. O
primeiro tem um valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com
pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma
marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma
humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: “não se faça
mais de estúpido do que é, meu amigo.”
Tênis é assim: recebe-se o sonho do
outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como uma bolha de sabão... O que se busca
é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser
preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom
ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do
outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que
os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para
que o jogo nunca tenha fim...
(Rubem Alves – Psicanalista e escritor)
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No próximo post, seguirei +/- na mesma linha, colocando ali uma breve análise
de um dos últimos livros lançado pelo aqui citado Flávio Gikovate. Quem gostar
do tema, sugiro a leitura!
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