Paulo tinha fama de
mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da
independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas
na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de
lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de
queijo.
Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar
futebol durante quinze dias. Quando o menino voltou falando que todas as
borboletas da Terra passaram pela chácara de Dona Elpídia e queriam formar um
tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao
médico.
Após o exame, o Dr. Epaminondas abaixou a cabeça:
- Não
há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.
(Carlos
Drummond de Andrade. Deixa que eu conto. São Paulo: Ática, 2003)
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