ERA UMA VEZ UM HOMEM
Era uma vez, em uma longínqua cidade chamada Dão Quebastião,
um homem que gostava de ser chamado de Som Sixote; era o “Som Sixote de Dão Quebastião”, dizia ele! Ele assim se auto
denominava pois se sentia o defensor, o advogado até, das mais sublimes
virtudes do ser humano: a honra, a lealdade, a busca frenética pela justiça e a
defesa do caráter. Dizia que não sossegaria enquanto não vencesse todos os
moinhos de vento com os quais se deparava no transcorrer de sua vida. Adorava
também ouvir o silvo das serpentes que iria combater, usando apenas e tão
somente seu cajado feito da madeira retirada da mais frondosa nogueira do
vilarejo... “Não há silvo que resista à nogueira”, dizia ele... E assim ele
vivia: ao ouvir um silvo, nogueira nela! Sua busca parecia ser utópica e
inútil, mas sua postura, com sua pança – na falta do “Sancho” – e sua
indefectível cigarrilha, até enganavam os mais incautos! Havia um porém, como
tudo na vida: ele adorava jogar e dançar...Para ele, acima mesmo de seus
moinhos de vento, estava a pista de dança e o sublime carteado! Jogava e
dançava, dançava e jogava...! Um certo dia, cansado daquela monótona “dança”, resolveu
aventurar-se por novas terras... Novas e ainda não cultivadas terras! Ao pensar
com os seus botões – passatempo favorito do dito cujo – achou que era hora de
dizer adeus à “ana...rquia” em que se encontrava e quis ir ter com aquela terra
novinha e cheirando a coisa fresca... Os sábios até que tentaram avisá-lo: “Já que você está fazendo uma mudança tão
radical, tome um cuidado especial: cultive-a com carinho, senão poderá estar aí
a sua ruína. Ara sério esta “fresca” terrinha que você escolheu para cultivar.
Faça dela muito mais do que uma secreta ária a ser cantada por um barítono
bufão, tal e qual uma cópia mal-ajambrada de algum “roberto jefferson” da vida.
Cuidado para não se tornar um fiel e digno representante do time dos rábulas”!
Ele, embriagado (ops!) de amor, não deu atenção; continuou,
mesmo em sua nova terrinha, a jogar e dançar, dançar e jogar! O amor dele por
estes dois vícios era tamanho, que ele começou a perder-se entre um e outro.
Não sabia mais o que era dança e o que era jogo. Sua mente estava confusa! Com
a cabeça em turbilhão, jogou a dança para longe e acabou dançando no jogo! O
que antes era uma simples “sinuca”, tornou-se agora seu tormento...Ele não dava
mais as cartas e nem tinha qualquer coringa escondido na manga. A única coisa
que sobrou foi seu tabuleiro e sua rainha... Não conseguia mais dar um
xeque-mate; viu-se tentado a reverter este patético e melancólico quadro,
tornando-se ele mesmo um horrível moinho de vento! De xeque-mate passou para o
“mate o cheque”.... e aí começou, tal qual um calhorda, um rábula, um réles
meliante, a apoderar-se do dinheiro dos outros que nele ainda confiavam!! O
grande Som Sixote virou um moinho do mal! Seus botões caíram...sua cigarrilha
apagou-se...seu jogo dançou! Ele apodreceu e passou a causar asco às pessoas de
bem!!
As únicas coisas que ainda o merecem, e o aguardam são...o
“xadrez” e sua rainha!! Como é hábito lá pelas terras de Dão Quebastião não
acontecer nada daquilo que seria justo, imagino que sobrará apenas seu patético
caminhar matinal, com os olhos firmemente voltados ao chão, à procura de sua
honra perdida, tendo que carregar sua pança e o peso de sua consciência.
Som Sixote finalmente mostrou-se o que é : um grande blefe;
uma piada de mau gosto; carta fora do baralho; um rábula da pior espécie!
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