13 de set. de 2015

HOJE



Na primeira longa parada que dei neste meu blog, fui estimulado a retomá-lo quando o Bruxo Abujamra morreu. Agora, novamente passando por uma parada em minhas postagens, volto a inspirar-me no Bruxo Abu para, quem sabe, retornar às minhas postagens, com minhas idéias, pensares e bobagens...

Como ando tendo um caso de amor com a Filosofia, andei xeretando alguns dos programas do Abu - Provocações - , onde ele recebe alguns filósofos, como o Karnal, já aqui citado umas tantas vezes, o Clóvis (idem) ou o psiquiatra Gikovate. Independente do entrevistado, o Bruxo sempre deixa, como última pergunta, a mais "simples" de todas: " - Fulano, o que é a vida?" Independente da resposta obtida, ele repete e repete e repete a mesma pergunta, até o entrevistado dar-se por vencido e descobrir que ele também, filósofo, ou psiquiatra, não sabe definir este enigma.

Na entrevista com o Clóvis, o Abu faz duas citações que gostei muito:

"- A filosofia é uma coisa com a qual e sem a qual, o mundo continua tal e qual" (Gregório Marañón)

" - Nada pode ser dito de tão absurdo que um filósofo não o diga" (Marco Túlio Cícero)

O Gikovate, por exemplo, "rendeu-se", após a terceira vez interrogado, dizendo um simples "não sei"! O Clóvis, também após a terceira vez, procurou as palavras e não as encontrou; calou-se!

Então, metido que sou, quero também dar os meus pitacos, oras! Até já o fiz em outros tópicos, como aqui por exemplo, onde faço uso de uma piada para... "explicá-la":


Quem sabe a vida seja mesmo uma piada, ora bolas. Quem há de me desmentir?

No fundo, aproveitando-me das duas frases citadas acima, acho que é mesmo por este motivo que ando apaixonado pela Filosofia: pense aquilo que quiser, sobre o que quiser, já que nada há na vida que não possa ser questionado e/ou definido por zilhões de diferentes maneiras. Independe se com isso você irá ou não descobrir a América. Independe se com isso você descobrirá finalmente o sexo dos anjos. Independe se com isso você aceitará com mais naturalidade o fato de sermos mortais. Como diz o próprio Clóvis, no tópico "Desafio vencido", tenha brio: tente entender o que é afinal a vida. Sei que ela seguirá "tal e qual" como disse o GM, mas ao menos você deu uma razão para o Tico & Teco existirem. Com os neurônios parados ou adormecidos, abriremos as portas para os "Alzheimer" da vida.

* Desafio vencido:


Também como diz o Karnal, minha "definição" de vida muda a cada instante: minha visão, evidentemente, é válida para aquele momento, aquele instante em que tento responder a esta intrigante pergunta! Hoje defino a vida como sendo x, ontem eu a definia como y e, provavelmente amanhã acharei que ela é z.

Tem vezes que rezo mais pela cartilha de um ou de outro. Tem vezes que me vejo partilhando mais a definição dada por fulano ou beltrano. Tem vezes que discordo, deste ou daquele. Tem vezes que mudo aquilo que disse ontem. Não abandono, nem deixo para trás, minhas mudanças e/ou incoerências sobre o assunto. Não fujo das minhas dúvidas e dos meus dilemas. Prá minha sorte ou azar (vai depender do estado do dia - rs), sigo achando um tesão tentar responder algo que beira, ou é, irrespondível! Para muitos, estarei desperdiçando o meu tempo. Para mim, estou vivendo!

Se para alguns isso tudo não passa de churumelas ou besteirol, sem problemas. Há gosto prá tudo! Há gosto em setembro!!

HOJE, imaginando-me frente ao Bruxo Abu e sua instigante e final pergunta, responderia seguindo o padrão do meu querido Cyro:

" - O que é a vida?"

" - O que é a vida!"




DÊ PLAY



1 de set. de 2015

Estratégias de guerra




Já que Morfeu esqueceu-se de passar por aqui hoje, volto ao blog. Vantagens de um aposentado: independente da hora, faço aquilo que minha vontade pede. Se depois terei que acordar um tanto mais tarde do que o habitual, deixo para saber amanhã. Sei que não haverá nenhum patrão aguardando a minha chegada.

Tenho visto muitas entrevistas aqui pelo Youtube. A principal de hoje foi um episódio do Roda-Viva entrevistando o Luis Felipe Pondé! Ele levou com a turma de entrevistadores, um papo-cabeça, claro! Discorreu um pouco sobre tudo. A parte que me fez voltar aqui ao blog, foi quando ele discorreu sobre a mentira! Teria adorado se ele tivesse dito, curto e grosso: " - Eu nunca menti. Esta frase agora, é a primeira vez !!" Seguiria o padrão cínico e sarcástico do Paulo. Mas, evidente, ele respondeu no padrão Pondé! Acreditei, e gostei, da resposta do carinha! Curto também mais este louquinho, como outros que ando citando por aqui.

(* para os mais curiosos e preguiçosos, ele disse que sim, que mente como todo mundo mas, nunca profissionalmente. Nunca quando está frente a uma platéia, uma sala de aula, entrevista, escrevendo um artigo ou afins. Na defesa das suas idéias maiores, ele não mente. Mente só, diria eu, mundanamente. Até porque, completaria com mais um chiste, o mundano mente. Ele não é um profissional mundano)

Aí, lembrei-me também que neste fim de semana tive uma prosa, não tão longa mas também nem tão vapt-vupt, sobre sinceridade, transparência, verdades e mentiras. Temas sabidamente etéreos, que dão muito pano p/ muita manga. Como definir claramente cada um destes, digamos, quesitos? É, claro, ao sabor de cada um. Mas, no fundo, acabo concluindo que, mesmo quando o diálogo é mais profundo, onde ambos buscam um saudável acréscimo em suas, até então, convicções, somos e seguimos sendo estratégicos, buscando sempre puxar a brasa p/ a nossa sardinha! É mesmo complicado, senão impossível, fugir de um certo percentual de egoísmo e egocentrismo quando queremos defender nossos valores! É natural e humano que assim seja. Mas não deixa de ser uma estratégia. Um plano elaborado para "vencer" a diferente idéia e/ou concepção, ou até mesmo convicção, do outro sobre aquele assunto.

Depois, abandonado por Morfeu que fui, lembrei-me de um velho e surrado ditado popular: "Na guerra e no amor, vale tudo!"

Preparei meu chazinho do Santo Daime, e fui destrinchar um pouco mais este manjado ditado. De cara, algo me saltou aos olhos: se a frase faz sentido, posso depreender que então o amor - ou a busca do - é uma guerra! Em sendo uma guerra...tudo é válido!

Quase que simultaneamente lembrei-me de um texto que deixarei também postado aqui ao final, apesar de já tê-lo postado em outro tempo, para que aqueles que ainda não o tenham lido, que o façam, e meditem com as sábias palavras do seu autor sobre esta tal busca do (ou pelo)  amor. A feliz comparação que ele faz com as posturas que dois seres podem fazer quando ambos querem achar um ponto de equilíbrio em suas histórias de suas buscas maiores. Como ele, autor e psicanalista vê, em seu universo profissional, as duas vertentes que mais se destacam neste universal anseio de todos nós. Os que se postam como tenistas ou os que se postam como jogadores de frescobol. O paralelismo por ele usado foi, a meu ver, muito feliz, indo ao cerne da questão! Competidores e não-competidores!

Neste momento, prá minha tristeza, fico querendo saber se no diálogo acontecido no domingo, estávamos ali como competidores ou não. Estávamos ali defendendo cada um seus valores e suas idéias maiores? Estávamos ali, ambos, transparentes ao extremo? Mergulhamos na profundidade da nossa (capacitada) sinceridade? Conseguimos ter esta capacidade em ser sincero como algo pleno, já que a  dita busca é algo tão especial e único? Será que, na verdade, acabamos usando e abusando de estratégias, como em uma batalha, p/ finalmente conquistarmos o território desejado? Mas, na guerra, o território desejado é o território...do outro. Do seu oponente. É o território daquele que é o seu inimigo.   

Este "vale tudo" do ditado me incomoda além da conta. Não consigo vê-lo com bons olhos. Aceito, até para não tornar-me definitivamente um ET, que sim, somos todos estratégicos. Sei que "precisamos" de um tanto de estratégia para enfrentar a vida. Mas o duro, e é onde eu empaco, é saber até onde o usar  da caixinha das estratégias faz bem no propósito de se buscar ou encontrar o amor! Acabo ficando sentindo um estranho cheiro no ar!

Assim como brinquei acima ao dizer que o mundano mente, buscar o (dito desejado) amor não deveria, nem de perto, passar por algo que pudesse ser catalogado de algo mundano. Acho que a saída é uma só: dois seres que almejam construir algo juntos e duradouro, devem, conjuntamente, serem capacitados de criar um clima que a ambos envolva, onde o máximo de transparência, sinceridade idéias sonhos e ideais maiores possam vir, naturalmente, à tona!

Caso, pelas razões kjjhhgggjh *fd*&¨kxbdhb *¨&%$#@@  %$$#$# estes  dois seres não consigam criar este clima, aquilo que já é uma agulha no palheiro, torna-se uma agulha da COR PALHA, no palheiro.

Com a palavra,  Rubem Alves!!



XERAZADE


Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os do tipo tênis e os do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietszche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a velhice? Tudo o mais no casamento é transitório mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar”.

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente. Terminam na morte, como no filme “Império dos sentidos”. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, Xerazade o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. Há carinhos que se fazem com o corpo e há os que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: “Eu te amo, eu te amo...Barthes advertia: Passada a  primeira confissão “eu te amo” não quer dizer mais nada”. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: Erótica é a alma”!

         O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva que indica o seu objetivo sádico, que é de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza do outro.

         O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e quem recebe faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como a ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

         A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

         Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.

         Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre esse jogo de tênis:

         “Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem um valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: “não se faça mais de estúpido do que é, meu amigo.”

         Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como uma bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.

         Já no frescobol é diferente: o  sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
        
        

(Rubem Alves – Psicanalista e escritor)