24 de jun. de 2014

Enfrentar o desconhecido



Corria o ano de 2002 e eu estava em minha última experiência em terapia. Quem sabe um dia eu retome novamente este caminho, que adoro. Quem sabe.

Lembro-me mto bem uma sessão onde citei o filme "Show de Truman" e combinei com minha terapeuta que iríamos revê-lo no decorrer da semana e comentá-lo com mais detalhes na próxima sessão. Esta combinação foi feita por um detalhe essencial no nosso tempo ali de Paulo encontrar-se um pouco mais com Paulo: disse à terapeuta, e jurava por todos os santos do mundo, que me recordava mto bem que o filme acabava qdo o veleiro do Truman/Jim Carrey batia no céu/infinito (depois de passar por maremotos terríveis e quase sucumbir) e ele enfim descobria que tudo aquilo era um cenário; tudo aquilo era parte de um show televisivo, tipo reality show e que a sua vida, desde o seu nascimento, era gerida pelos profissionais do canal de TV que passava aquele "programa"; em especial seu chefe supremo, não por acaso de nome Christoff.

Eu tinha certeza que o final do filme era aquele. Jurava por tudo que fosse mais sagrado que assim acabava o filme: ele descobrindo que toda a sua vida foi, senão uma farsa, uma vida dirigida e direcionada pelos outros e nunca por ele mesmo.

Como decidimos revê-lo, imaginem o tamanho da minha surpresa: por razões que desconhecia (excesso de pessimismo?), não me lembrava, nada nada nada do magnífico final que o autor do filme deu à sua história ali contada. Depois de ter descoberto a "farsa", encontrou, ao subir os degraus da escada do cenário, a porta que, se aberta, o colocaria lá fora, no mundo real, tirando-o finalmente de uma vida dirigida e direcionada por terceiros. Seguiu-se um pesado diálogo entre ele e seu "Diretor" (?) Christoff, se ele deveria abrir e ultrapassar aquela porta ou não.

Christoff fez de tudo para convencê-lo a não abrir e ultrapassar a porta. Tentava convencê-lo que ali dentro, no cenário do reality show, ele tinha segurança, proteção e os cuidados de toda a equipe do programa e que lá fora, ele não saberia o que iria encontrar, pois seria tudo novo para ele, onde ele teria que se virar sozinho: não poderia contar com mais ninguém do staff do programa para salvá-lo das dificuldades que, com certeza, ele iria encontrar "lá fora"! Truman não se deu por convencido: escolheu abrir e ultrapassar a porta, deixando o certo, indo atrás do desconhecido e incerto. "Mergulhou no escuro", agradeceu toda a proteção que até então teve de todos os integrantes do programa de TV e optou por ir atrás da sua vida própria, com todas as incertezas que um passo desse leva junto. Optou por saber, afinal, o que há do lado de lá do muro/cenário. Optou em enfrentar por conta própria o tanto de desconhecido (bom ou ruim) que a partir daquele momento passaria a encontrar cruzando o caminho da SUA vida.

Agradeceu a todos e despediu-se tb de todos, daquele mundo que era todo artificial e nunca comandado por ele mesmo, com sua frase-chavão durante todo o filme:

"-Caso não o encontre mais...bom dia, boa tarde e boa noite..."!

...e foi encontrar a vida real, a vida onde seus passos serão os seus passos, suas opções tb, suas vitórias, idem. Assim como suas derrotas e choros tb! Foi atrás tentando, pela primeira vez, tocar, do melhor jeito que pudesse conseguir, ser dono pleno da sua própria vida!

O filme acabou, assim como acabou, naquela minha sessão terapêutica, minha absoluta cegueira e pessimismo que carregava até ali: que minha vida não é tocada por mim. Que sou dirigido e direcionado por alguém que não seja eu mesmo mas, assim como a terapia serve para vc sair de onde está e ir para outro lugar (nunca sabido se melhor, pior ou quase a mesma coisa), ultrapassar aquela porta traz o mesmo risco: há segurança ZERO se do lado de lá me darei bem, mal ou quase nada mudarei...mas há segurança ABSOLUTA de que sairei de onde estava e me sentia tão mal e incomodado.

Sairei vitorioso? Mais uma vez este meu novo filme só começou! Não há como saber! Só o tempo dirá. Só a vida vivida mostrará. Só posso esforçar-me para fazer tudo aquilo que depender de mim e que eu sinta que é o certo e melhor para que o sucesso venha.

Tentarei!


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