Meus Gurus

Fernando Pessoa

Um poeta. Um fingidor. Um desassossegado. Nunca saiu da sua Tabacaria.

Ai ele sofria.......

Sentei à sua mesa, lá em Lisboa, no Café “A Brasileirinha”. Tenho a “nossa” foto, juntos em um bar.

Teve 127 heterônimos. Não, não é  exagero poético aqui. Procurem pelo livro “Fernando Pessoa (uma quase autobiografia), de José Paulo Cavalcanti Filho. Estão todos lá; um por um.

Aí ele sofria...

Escrevia p/ ele mesmo. Com carta lacrada, destinatário x e remetente y. Encantou a Bethânia em tantos shows e comoventes declamações.

Aí ele sofria...

 Escreveu ridículas cartas de amor. Como todas. Foi guardador de rebanhos. Foi caleidoscópico! Fez eu amar “Eros e Psiquê”. Fez que eu me visse Príncipe. Me visse Princesa. Príncipe e Princesa e Princesa e Príncipe.

Deixou, para todos nós, o ensinamento de que... "navegar é necessário mas viver não é exato" (rs). Ele era preciso no trato com as palavras! No trato com as palavras ele era IN. Imbatível e IN preciso!

Ai ele sofria...

Acompanhou-me qdo da minha internação para botar os parafusos no lugar!

Tentou desesperadamente ser tantos e não conseguiu sequer ser ele próprio.

Aí ele sofria...

Quase virou só um "ídalo" para mim.

Ensinou-nos que tudo vale a pena... A pena vale tudo. Só a pena vale! Quanta pena!

Que pena!

Ai sofria...

Serviu de cobaia para que o ser humano soubesse qto um ser humano pode, de fato, viver diuturnamente na dor.

Mostrou-nos: morreu cedo.

Morreu cedo,  este gênio da dor!

Aí, acho - mas não garanto - parou de sofrer!

Guru das minhas exageradas dores.

Nelson Rodrigues

O “Anjo Pornográfico” como bem definiu Ruy Castro.

Não deu moleza. Sempre pegou pesado. Adorava fazer, das famílias, picadinho de quinta categoria. Comida p/ os gatos (ou para os ratos dos becos mais imundos).

Fazia questão de caricaturar tudo e todos. Carregava nas cores. “O Grito”, perto dele, é um lírico quadro mostrando um arco-iris terminando em um baú cheio de ouro (desculpem-me pelo exagero. Coisa de fã e súdito).

Atiçou o Chico até ele fazer outra obra-prima, chamada “Te perdôo por te traíres”. Pirei no título (música e filme)! Pirei legal!

Ensinou-me o qto só pensamos e nunca falamos. Pensamos mortadela e falamos caviar! Ensinou-me que a vida tb é passada em off.

Chamou o Otto Lara Resende de "bonitinho mas ordinário" (rs). Currou a Lucélia Santos!

Matou o amor quando disse que “o dinheiro compra tudo; até amor verdadeiro”!

Beijou o asfalto, desvestiu a noiva. Fez o “Teorema” do Pier Paolo Pasolini parecer Love Story (desculpas II)

Fudeu com a Betty Friednan e todas as feministas de plantão quando disse que "nem todas as mulheres gostam de apanhar. Só as normais" Ele sabia bater!

Era mesmo exagerado este rabugento Anjo Pornográfico. Muito antes do Cazuza!

Quis implodir a Igreja, colocando os padres em passeatas ou comendo aquela viúva gostosa que estava ali, dando sopa. Ou o coroinha, quem sabe!

Enfim, chutou o pau da barraca, pois sabia que lá dentro todo mundo "tava" comendo todo mundo. Estava correndo um puta bacanal, uma puta orgia, onde um certo Paulo César Pereio ficou envergonhado; ele era só um coroinha ali no canto, rezando seu terço e tomando água mineral. Sem gás. (desculpas III)

Queria deixar-nos todos nus!!! Era óbvio ululante que era isso que ele queria!

Despi-me!

Guru das minhas exageradas pornografias.

Salvador Dali

Louco varrido, doido de pedra, maluco beleza e pirado ao cubo. Flertou com o Garcia Lorca, "lorco" que era. Mas acabou se casando com a Gala. Depois, fez da gala a sua amante. Eram tantas galas e só uma Gala. Fez o auto-retrato do auto-retrato do auto-retrato.Viveu com tanta gala, sem nunca largar a Gala, que a certa altura da vida seus desafetos passaram a chamá-lo de “Ávida Dolars”. Maldade pura. Despeito total. Ele sorriu!

Tinha gula pela Gala, mas não a comia.Sabia respeitar as donzelas.

Fui ao seu museu lá em Cadaqués, cidadezinha próxima a Figueras, onde nasceu! Tomei sua benção, pois lá repousa seu corpo.

Em vida, fez de tudo. Não perdeu tempo: pintou (maravilhosos) quadros, derretendo relógios, colocando gavetas no peito dos homens, fez o reflexo de um cisne transformar-se em um elefante, deformava tudo e a todos, sem nunca perder suas raízes, catalão que era. Fez várias Galas e mto mais. Fez móveis (uma das salas, com sofá, virava a Marilyn Monroe, quando observada de longe), esculturas, jóias, bijuterias e  perfumes. Cultuou um bigode nunca igualado.

Fez o diabo! Deu o rabo!

Fez de tudo um pouco. Nunca o vi chorando. Nem em foto. Uma foto dele chorando bateria recorde em qualquer leilão.

Saindo do seu museu, pude escolher uma cópia de um dos seus inúmeros quadros. Escolhi este que fecha o texto e que hj está pendurado em uma parede da minha casa, do meu canto, atrás da minha cama: um Dali quase monocromático, leve, poético e delicado.

Para nos lembrar que, se os brutos tb amam... os loucos tb tem seu lado de pura leveza e poesia!

Guru dos meus exagerados delírios e devaneios.

Eram exagerados estes meus Gurus!