28 de mai. de 2014

Loucos e Santos



                                                (Antonio Abujamra)


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. 
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. 
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. 
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. 
Deles não quero resposta, quero meu avesso. 
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. 
Para isso, só sendo louco. 
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. 
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. 
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. 
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. 
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. 
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. 
Não quero amigos adultos nem chatos. 
Quero-os metade infância e outra metade velhice! 
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. 
Tenho amigos para saber quem eu sou. 
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde.
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Saravá, Abujamra! Saravá Oscar Wilde! Saravá para esta quarta-feira que já vai se despedindo...

Caminhos de pedra...





Na última conversa séria, ou pretensamente séria que tive (coisa de uma semana atrás), brinquei que estava entrando de sócio dos "Vigilantes do Piso". Como acho que 85 quilinhos para os meus 1.84 de altura não pedem, ainda, para que entre para os Vigilantes do Pêso, resolvi  entrar para os "Vigilantes do PISO".

Quem já andou pelas ruas de Paraty, principalmente se falamos de alguma incauta donzela que ali apresentou-se trajando um salto alto, sabe a dificuldade que é por ali caminhar. São pedras do tempo do Império, disformes  em tamanhos e formatos, passando longe de formar uma suave passarela para o seu  suave caminhar. Vc tem que andar ali atento, vendo muito bem por onde pisa. Caminhar pela bucólica Paraty, sem estar atento onde pisa, é dar chance para o azar e sair dali com uma raiva que Paraty não merece. Paraty tem aquele piso; se é por lá que vc pretende caminhar...fique atento!

Sigo tb concordando, em gênero, número e grau com Carlos Castañeda quando nos disse/ensinou que...

"Todos os caminhos são iguais. Todos eles levam ao mesmo lugar ou seja, a lugar nenhum. Mas um deles é feito e trilhado com o coração, e é este que vc deve seguir!"

Pois bem: este meu momento me pede exatamente isso - muita vigilância para ver onde ando pisando e onde pisarei em meu próximo passo, pois não quero correr o risco de sofrer uma entorse de tornozelo, fratura ou algo ainda pior. Como minha véspera de Natal ainda não chegou, até pq não sou perú, seguirei vigilante qto aos meus passos.

Vejo-me, neste momento, sem GPS, placas indicativas, quiosques de informação, dica de algum guia que esteja por ali levantando o seu troco ou coisas do gênero. Vejo pedras, trilhas e algo lá adiante, no horizonte, ainda um tanto distante de onde estou, que ainda não consigo definir muito bem o que seja. Até pq, convenhamos, tb já tenho meu olhozinho D operado, trabalhando com uma lente que não é aquela com a qual nasci. Daí.....vigilância constante!

(*Quero, junto com o Benê, ter dois olhos inteiros e que não deixem escapar o essencial. Tanto ele qto eu, acho, estamos a caminho disso)

Saber que chegaremos todos ao mesmo lugar - A LUGAR NENHUM - já não me desaponta ou me desanima tanto quanto em outros tempos, não tão remotos assim, mas que a responsabilidade dos meus passos dados seja cada mais mais reconhecida, na boa, sendo minha e só minha, já me traz um certo bem estar. Caso consiga, além da responsabilidade, colocar o máximo do meu coração neles, ainda melhor. 
Assim confirmarei que não interessa qual será o meu ponto de chegada e sim qual caminho trilhei para chegar até ali.

Como tb tenho  tentado não exagerar na minha (muitas vezes inútil) prolixidade...paro por aqui!

Saravá, "Bruxo Carlos Castañeda"


23 de mai. de 2014

Saravá!



Sossego, saravá!
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Este "senhor" estará sempre diretamente atrelado à minha vida enquanto eu por aqui estiver caminhando. Não só pelas inúmeras obras-primas que nos deixou, suas mensagens e ensinamentos de como viver a vida, os amores e os desamores (Drummond disse que Vinícius foi o único poeta que viveu como poeta) mas pq quis o destino, que a minha amada filhota


nascesse no mesmo dia dele (19 de outubro) e depois resolveu nos deixar, em pleno sossego, tomando seu banho de banheira (provavelmente com um copo de whisky ao lado e seu inseparável cigarrinho), no dia do meu aniversário (9 de julho)!

http://simbolofalicoeocacete.blogspot.com.br/2013/11/quem-sou-afinal.html
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Vinícius, saravá!

22 de mai. de 2014

O dono do blog trabalhando...


Só dois "casinhos" do dono do blog para que vocês possam conhecê-lo um pouquinho melhor!

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Diz que quando recebe um paciente novo no seu consultório a primeira coisa que o analista de Bagé faz é lhe dar um joelhaço. Em paciente homem, claro, pois em mulher, segundo ele, "só se bate pra descarrega energia".
Depois do joelhaço o paciente é levado, dobrado ao meio, para o divã coberto com um pelego.
- Te abanca, índio velho, que ta incluído no preço.
- Ai - diz o paciente.
- Toma um mate?
- Nã-não... - geme o paciente.
- Respira fundo, tchê. Enche o bucho que passa.
O paciente respira fundo. O analista de Bagé pergunta:
- Agora, qual é o causo?
- É depressão, doutor.
O analista de Bagé tira uma palha de trás da orelha e começa a enrolar um cigarro.
- Tô te ouvindo - diz.
- É uma coisa existencial, entende?
- Continua, no más.
- Começo a pensar, assim, na fìnitude humana em contraste com o infinito cósmico...
- Mas tu é mais complicado que receita de creme Assis Brasil.
- E então tenho consciência do vazio da existência, da desesperança inerente à condição humana. E isso me angustia.
- Pos vamos dar um jeito nisso agorita - diz o analista de Bagé, com uma baforada.
- O senhor vai curar a minha angústia?
- Não, vou mudar o mundo. Cortar o mal pela mandioca.
- Mudar o mundo?
- Dou uns telefonemas aí e mudo a condição humana.
- Mas... Isso é impossível!
- Ainda bem que tu reconhece, animal!
- Entendi. O senhor quer dizer que é bobagem se angustiar com o inevitável.
- Bobagem é espirrá na farofa. Isso é burrice e da gorda.
- Mas acontece que eu me angustio. Me dá um aperto na garganta...
- Escuta aqui, tchê. Tu te alimenta bem?
- Me alimento.
- Tem casa com galpão?
- Bem... Apartamento.
- Não é veado?
- Não.
- Tá com os carnê em dia?
- Estou.
- Então, ó bagual. Te preocupa com a defesa do Guarani e larga o infinito.
- O Freud não me diria isso.
- O que o Freud diria tu não ia entender mesmo. Ou tu sabe alemão?
- Não.
- Então te fecha. E olha os pés no meu pelego.
- Só sei que estou deprimido e isso é terrível. É pior do que tudo.
Aí o analista de Bagé chega a sua cadeira para perto do divã e pergunta :
 - É pior que joelhaço?

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Contam que outra vez um casal pediu para consultar, juntos, o analista de Bagé. Ele, a princípio, não achou muito ortodoxo.

— Quem gosta de aglomeramento é mosca em bicheira... Mas acabou concordando.

— Se abanquem, se abanquem no más. Mas que parelha buenacha, tchê! . Qual é o causo?

— Bem — disse o home — é que nós tivemos um desentendimento...

— Mas tu também é um bagual. Tu não sabe que em mulher e cavalo novo não se mete a espora?

— Eu não meti a espora. Não é, meu bem? 

— Não fala comigo!

— Mas essa aí tá mais nervosa que gato em dia de faxina. 

— Ela tem um problema de carência afetiva...

— Eu não sou de muita frescura. Lá de onde eu venho, carência afetiva é falta de homem.

— Nós estamos justamente atravessando uma crise de relacionamento porque ela tem procurado experiências extraconjugais e...

— Epa. Opa. Quer dizer que a negra velha é que nem luva de maquinista? Tão folgada que qualquer um bota a mão? 

— Nós somos pessoas modernas. Ela está tentando encontrar o verdadeiro eu, entende?

— Ela tá procurando o verdadeiro tu nos outros?

— O verdadeiro eu, não. O verdadeiro eu dela.

— Mas isto tá ficando mais enrolado que lingüiça de venda. Te deita no pelego.

— Eu?

— Ela. Tu espera na salinha.



Comemorando a vida....


(Jards Macalé - Mambo da Cantareira)

...ou o momento da vida, ou ESTE momento da MINHA vida, ou este instante da minha vida...ou este segundo de vida, sei lá!!!!

Vou "aprender a nadar" senão....dá-lhe "joelhaço" por parte do Sr. de Bagé! Tá doido, tchê. O joelhaço dele dói, machuca, marca.

Já disse que quero sossego; só!

Deixo com vocês, outro "maldito" que adoro: Jards Macalé, autor de dezenas e dezenas de ótimas coisas mas....como nasceu em um país chamado Brasil é, mais do que maldito (ou, além de), desconhecido por pelo menos 90% de quem habita este pedacinho de chão, que a "filósofa" Dilma comanda.

Aprenda a nadar.....ou morra afogado, tchê!

Por ora, um mambo, prá alegrar minha quinta-feira!

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Só outro exemplo. E vc aí certo de que esta música era de autoria do Zeca Baleiro, cantando com a Gal Costa, né não?

Pois é! Errou feio!

Os brutos (e malditos) também amam...e choram...e sofrem...e se angustiam e............fazem arte!


                                 
DÊ PLAY



                                                              (Vapor Barato)

Volto outra hora.

21 de mai. de 2014

Mudando...



Desde que abri este blog, em novembro de 2013, apresentei-me por aqui com uma caricatura do Freud. 
Caricatura, mas de uma figura venerada, idolatrada, fazendo questão de ser sério, profundo, reconhecida, aplaudida e blá blá blá....

Cansei. Resolvi mudar! Resolvi radicalizar! É prá "mergulhar" para a parte submersa do nosso gigantesco iceberg? Então tá! Mergulharei...mas seguindo o mestre único e inigualável que Bagé nos presenteou! Neste momento da minha vida me identifico mto mais com a genial criação do Luís Fernando Veríssimo, com seu sutil e sempre inteligente humor!

De agora em diante, serei  "representado" pelo Analista de Bagé! Minha linha terapêutica será a dele: terapia do "joelhaço"! Quem é jovem demais p/ conhecê-lo, sugiro pesquisar sobre o dito cujo. Quem já dobrou o Cabo da Boa Esperança, como eu, saberá de quem estou falando! Quem não estiver nem aí em saber de quem se trata, tb tudo bem!

Sempre "tirei o meu chapéu" para o Freud, e continuo tirando: as sacadas dele seguem todas aí, mais vivas do que nunca. Vc pode alterá-la um tantinho aqui ou ali com uma pitada de Lacan, Reich, Jung ou sei lá mais quem, mas quem deu o pontapé inicial nesta loucura toda foi mesmo o Sig, que segue por mim, senão venerado, aplaudido de pé!

Mas agora, novos tempos, entra em campo o Analista de Bagé e sua terapia do joelhaço: ou cura de vez, ou vá procurar outro "terapeuta" que se encaixe melhor com o que vc quer ouvir de um analista.

Agora entra em campo, no lugar do pai da Psicanálise, o filho de Bagé, um freudiano "mais ortodoxo que pomada Minancora", como ele se auto-definia !

Para recebê-lo, pedi para que o Raul nos tocasse algo! Gostei da escolha do Raulzito pois perder medo(s) é uma conquista e tanto; e um belo (re)começo! Raul, que pegava na veia, sabe tb como utilizar a terapia do joelhaço, canceriano que era, assim como eu!


Portanto senhores, daqui prá frente, tocando o blog "ENTRE NÓS" ele, o criador da "joelhaçoterapia", embalado pelo (saudoso) Raul...sem medos!

20 de mai. de 2014

Um desejo



Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlaçemos as mãos)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado.
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.


(Ricardo Reis)


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Meu desejo: sossego! Só!


Alvaro de Campos - Antonio Abujamra...



NÃO: Não quero nada. 
Já disse que não quero nada. 
Não me venham com conclusões! 
A única conclusão é morrer. 
Não me tragam estéticas! 
Não me falem em moral! 
Tirem-me daqui a metafísica! 
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas 
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) — 
Das ciências, das artes, da civilização moderna! 
Que mal fiz eu aos deuses todos? 
Se têm a verdade, guardem-na! 
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. 
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. 
Com todo o direito a sê-lo, ouviram? 
Não me macem, por amor de Deus! 
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? 
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? 
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. 
Assim, como sou, tenham paciência! 
Vão para o diabo sem mim, 
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! 
Para que havemos de ir juntos? 
Não me peguem no braço! 
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho. 
Já disse que sou sozinho! 
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia! 
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo... 
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

12 de mai. de 2014

Traga a poesia para a sua vida...



                                  (Poema Em Linha Reta - Fernando Pessoa)

Acabei de dar uma, digamos, complementada em meu tópico "Anarquista" (link abaixo)


e agora deu-me vontade de fazer algo parecido, homenageando novamente o nosso livre-arbítrio: esta particularidade é tão especial e essencial às nossas vidas, que não damos a ela a devida atenção.  É através dela que sorrimos das imbecilidades e equívocos que cometemos no andar de nossas vidas...ou nos lamentamos e choramos copiosamente pq, sei lá, o nosso time de futebol perdeu um jogo importante. Livre-arbítrio: se temos "ferramentas" para tocar nossa caminhada, esta é uma que estará SEMPRE em nossas mãos; e, de um jeito ou outro, estaremos sempre, ininterruptamente, fazendo uso dela, mesmo que não percebamos que aquilo que acabamos vivendo foi resultado óbvio/lógico, daquilo que vc fez com seu livre-arbítrio, qdo "pedras apareceram no meio do caminho"!

Deixo aqui, mais uma vez, um outro poema do meu amado Fernando Pessoa: declamado pelo mestre Paulo Autran e depois....trazido, com muita inteligência, para a nossa vida real e vida vivida, em uma passagem de uma mera novela.

Viva em poesia e adoce, floreie, acaricie e agrade, sempre que possível, seu mágico poder de ser dono único do seu livre-arbítrio.

Tomando ou não os seus "gorós" (rs)




Segue a segundona.....


11 de mai. de 2014

In Memoriam - Nostalgia pura



DÊ PLAY



                                     (Disparada - Jair Rodrigues / 1966)

Deixo este post aqui por pura nostalgia, que foi o que me trouxe a morte do "sempre moleque" Jair Rodrigues: tinha só 14 aninhos mas acompanhei fervorosamente este e os outros Festivais da Record, vendo ali nascer gênios da MPB que até hoje me acompanham.

Aproveito ainda e posto tb algo que pouca gente sabe, retirado do post da jornalista Alessandra Alves sobre o que de fato aconteceu naquele..."empate" entre Disparada e A Banda.

Confesso que torci para "A Banda": para um pirralho de 14 anos ela era muito mais palatável, digerível e fácil de assimilar. Era quase que uma "brincadeira" do Chico, tal e qual, anos depois, Vinícius faria, junto com Toquinho, a série "Arca de Noé"! Mas, atentando-se melhor à música, melodia, letra, ARRANJO e a genial interpretação do JR dada à música do Vandré, não há como enxergar que "Disparada" é muito mais MÚSICA e não poderia mesmo deixar de sair como vencedora, mesmo que tenha sido através de um acerto de bastidores. Mérito tb do Chico, claro, que com seu discernimento e conhecimento musical, "exigiu" que o primeiro prêmio fosse dividido com Disparada.

O post fica mesmo como uma memória minha ao eterno risonho e fantástico cantor JR, junto com a carga da mais pura nostalgia que tudo isso/todo este tempo vivido me traz.

Tempos idos...mas nunca esquecidos!! Memórias agradáveis para serem guardadas para sempre!

Depois...crescemos; não sei se evoluímos, mas crescemos! Hoje, abro espaço para a nostalgia, recebendo-a, de braços abertos, em meu colo.

Assim deu-se a história do "empate":

Para quem não viveu ou já não lembra, um breve contexto, extraído do livro “A era dos festivais – Uma parábola”, do jornalista e crítico musical Zuza Homem de Mello. O festival realizado pela TV Record, em 1966, entrou para a história ao consagrar duas músicas no primeiro lugar: A Banda, de Chico Buarque, cantada por Nara Leão, e Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, defendida por Jair Rodrigues.

A disputa entre as duas músicas foi acirrada a ponto de dividir a platéia, a audiência e de virar tema de comentário em todo o canto da cidade de São Paulo. As eliminatórias do festival começaram em setembro de 1966. Disparada classificou-se na primeira eliminatória. A Banda, na segunda. No dia da grande final, realizada no Teatro Record, na rua da Consolação, cinemas e teatros chegaram a cancelar sessões de suas atrações, tamanho o alvoroço causado pelo festival.

O resultado anunciado pelo apresentador Randal Juliano sacramentou o empate entre as duas músicas no primeiro lugar. O que a maioria das pessoas nunca soube, até 2003, é que o empate não aconteceu de fato. Os jurados reunidos deram vitória para A Banda, mas uma seqüência de decisões mudou o rumo da história.

Primeiro, Chico Buarque deixou claro, nos bastidores, que não aceitaria o prêmio, porque considerava Disparada melhor que sua música. Ao saber disso, um dos diretores e herdeiros da Record, Paulinho Machado de Carvalho, foi até a sala dos jurados e falou sobre a decisão de Chico. Influenciou o grupo a optar pelo empate, ponderando que seria a única forma de não deixar metade da platéia, e da audiência, frustrada. Comunicou o acerto a Chico, que aceitou dividir o prêmio, mas os outros compositores e demais participantes foram informados de que teria havido empate entre os jurados – seis votos para cada música.

A verdadeira história só veio a público quando Zuza lançou seu livro. Além de revelar a real escolha dos jurados, Zuza conta os bastidores da votação, mostrando como a divisão de torcida pelas duas músicas chegou inclusive a contagiar o júri. Houve quem tivesse votado na música de Chico, mas que depois dizia preferir Disparada.



* Artigo original

http://alessandraalves.blogspot.com.br/2006/03/banda-x-disparada-o-desemp_114355503755801521.html