18 de mai. de 2016

Vagabundo, eu?



Menino da safra de 1952, comecei a trabalhar já tarde, por volta de 1975, dois anos antes de me formar, já batalhando na Medicina. Portanto, tendo me aposentado em 2014, completei 39 aninhos de labuta. Mesmo não tendo tido um casamento dos sonhos com a Medicina, exerci minha profissão com empenho e dedicação, fora um tanto de “cara feia”, às vezes, por não estar onde queria. Assumo a responsabilidade do meu, digamos, equívoco, mas levei a sério o meu trampo.


* Aqui, tento "explicar" o meu equívoco: 


Trampei pacas, sendo que me recordo até de uma ocasião onde, recém-casado (1979), cheguei a dormir por uma semana fora de casa, já que pulava entre os plantões aqui e ali. Ou seja, meu quinhão já foi dado. Sem Lei Rouanet ou algo do gênero, trampei por quase 40 anos!

Hoje, vivo no ócio. Para alguns, “vagabundeando”. São só uns meros alguns, sem a menor importância. Hoje, curto meu ócio. Por direito adquirido.

Quando pensei neste tema, comecei, como sempre, pesquisando um pouco mais a palavra que aqui iria usar: ÓCIO. Fui ao dicionário etimológico e lá encontrei:

“A palavra negócio vem da combinação de nec + otium. No latim, otium é descanso, lazer, e a partícula nec é um advérbio de negação. Praticar o não-ócio é negociar, trabalhar para, depois, dedicar-se ao que é positivo: viver em paz.”

Sendo assim, é fácil perceber que hoje não “negocio” mais. Não trabalho mais para depois... Simplesmente vivo o ócio em sua plenitude.

Houve um baque ao aposentar-me? Claro que sim. É normal que estranhemos que, do dia para a noite, não temos mais compromissos com relógio e afins. Meu horário faço como me convém, no dia. Se quiser acordar às 5 da manhã em pleno domingo, por exemplo, simplesmente acordo. Se quiser dormir até meio-dia em plena quarta-feira, idem!

Como costumo dizer, tornei-me “rico”. Rico quando me recordo que, com o passar dos anos, acabei definindo pobre como “aquele que acorda antes do horário que seu corpo gostaria de acordar.” Independente do quanto entra de $$ em sua conta bancária ao final do mês: 1, 10, 100 ou 1000. Se para isso teve que ir contra ao desejo do seu corpo e levantou da cama contra a vontade do mesmo, em nome do $$ do final do mês, este alguém é “pobre.” Acordar antes do horário que o corpo pede para acordar, é o mesmo que comer sem fome, beber sem sede ou mesmo ir ao banheiro dar uma mijadinha, sem nada na bexiga(rs). Não dá boa coisa. É algo absolutamente antinatural.

Hoje o meu ócio é todo ele voltado para o prazer. Para o lazer. Prazer e lazer, não pedem horas ou dias específicos. O “Saturday Nigth Fever” é coisa de quem  só tem mesmo o final de semana para divertir-se. Depois, vem sempre a famigerada segundona e o trampo ali, esperando por você, com seu cartão de ponto e/ou reuniões mil para correr atrás do din-din.

Nada contra aquele/a que segue sentindo prazer e tesão, mesmo após anos de labuta, pular da cama quando o despertador toca,  às seis da manhã de uma chuvosa segundona, para correr pro trampo. Não só não tenho nada contra, como invejo aqueles que assim são. São seres privilegiados e formam a exceção da exceção. Invejo aquele que, como o Cauby Peixoto, que agora nos deixou, cantou até morrer. Praticamente morreu no palco, em seus juvenis 85 anos, vivendo seu "Bastidores". Não sendo você um Cauby, repense sobre o que anda fazendo com a sua vida. Reflita um pouco mais sobre suas prioridades. Não fosse assim, o horário que vem logo após o término do trampo não se chamaria happy-hour. O happy-hour é o despertador avisando que acabou o castigo. Hora então de sermos felizes. Caso você se encaixe na exceção das exceções, eleve as mãos aos céus. Caso contrário, repense seu painful time! 

No mínimo, faça como certa ocasião ouvi o Ludwig Waldez dizer: “Você não precisa, necessariamente, fazer aquilo que ama. Mas, ao menos, ame aquilo que faz!”
Por isso, repito aqui: hoje, não “negocio” mais! Hoje, sou um ocioso. Hoje, vivo em paz!


Deixe de ser platônico, carinha. Eu, por exemplo, já desisti da Fernanda Lima ou mesmo da Diana Krall. Azar delas (rs). 

Relembrando o sempre genial Millôr Fernandes, “quem se mata de trabalhar não merece mesmo viver!”

2 comentários:

paulo vitor disse...

muito bom o blog. além de gostar, identifico-me muito com os textos e pensamentos

abraços de um calouro de medicina, também, hahaha

Unknown disse...

Agradeço pelos elogios! Boa sorte também em sua árdua tarefa como discípulo de Esculápio(rs). Abraço