3 de ago. de 2015

Meu xará



Gosto muito deste meu xará! Esteja ele falando sobre os amores e desamores, sobre a arte de educar, ou de não educar, sobre si mesmo, sobre o começo ou o meio ou o fim das coisas, ele sempre nis fala com lirismo,

Ele é mesmo um lunático, um visionário, um sonhador, uma criança, um adulto, um otimista/esperançoso, um
realista, com os dois pés no chão. Mas sempre priorizando o lírico de cada situação. Sempre falando com o coração escancarado

Ele é, enfim, um poeta!!


* Ao final deste texto, deixarei os links de outros três já postados por aqui em outros momentos,
mas que valem uma releitura
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DENTRO DA NOITE


Você corria por dentro, eu corria por fora; você em pista de grama, eu em pista de areia. Você era uma égua de raça, meu amor, e se chamava Helena de Tróia, eu era um cavalo de criação nacional e meu nome era Black & White. Você era do vermelho-castanho daquela rosa de veludo chamada Príncipe Negro; eu era todo preto manchado de branco no pescoço. Éramos dois belos animais, e estávamos emparelhados na frente, numa atropelada cheia de ritmo, muito longe dos outros que nos perseguiam inutilmente, num corpo a corpo incomparável.

Não, ninguém nos montava: corríamos libertos por uma campina, desaparecemos debaixo das árvores de um bosque, chegamos a uma planície onde existia apenas um anúncio de gasolina americana. E além desse descampado, sentimos, sem dizer nada, com os nossos olhos ternos e grossos de cavalo, que o mar ao longe estava batendo e tremia, as ondas se empinavam em desafio, crinas de espumas eriçadas, relinchando ao vento. Era um mar mais estranho que o mar, cavalos de água se erguiam e desmanchavam, nós corríamos de encontro a ele em um galope igual.

Ah, o mar não deteve a nossa corrida, mas avançamos sobre as ondas, as nossas patas mal tocando a água verde, livre sobre o mar livre, focinho com focinho, ilharga contra ilharga, passamos debaixo do arco-íris e decolamos. Voávamos perto das vagas que molhavam as nossas bocas com suas gotas salgadas quando de repente anoiteceu sem qualquer solidão. Apenas o teu olhar manso e rutilante de animal na escuridão. Sentia o calor do teu grande corpo e meu coração me feria como se um punho fechado batesse com força em meu peito.

Sim, sei perfeitamente, qualquer Freud de porta de venda pode explicar o meu sonho; mas nunca poderá roubá-lo.

Houve um momento em que nos envolvemos num turbilhão de estrelas pequeninas. E nada mais. 

(Paulo Mendes Campos)

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O amor com seus começos meios e fins:


A visão dele sobre educar ou não nossos filhos:


Como conhecer, reconhecer e entender/aceitar nossas dores:



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