11 de abr. de 2017

DIZENDO PALAVRAS



Por volta de vinte anos atrás, meu terapeuta deu-me um livro, como um Mestre dá ao aluno a chave para destrancar as portas que cismam em seguir fechadas e proibidas. Com seu doce e meigo olhar ele presenteou-me com o livro, dizendo que..."era hora"!

"Acho que agora você já poderá lê-lo, meu filho. Acho que agora você poderá compreendê-lo e aí ultrapassar todas as portas fechadas que for encontrando pela vida!"

O livro chama-se "Palavras Para Dizer", de Marie Cardinal, uma escritora franco-argelina, que o escreveu em 1975, descrevendo sua experiência de sete anos de análise, com o "doutorzinho do beco."

Gostei muito do livro, "paipai", mas ainda não era hora. Não sei se, mais uma vez obedecendo minha mãe, quando vaticinou no tempo x que ainda havia muito sofrimento para eu passar, gostei do livro e deixei-o jogado em qualquer estante, sem tê-lo, de fato, absorvido.

Por mais coincidências "cósmicas" (a Tetê ainda não havia nascido) que eu via entre o livro e o Paulo, não consegui mergulhar plenamente naquelas letrinhas juntadas pela autora: eu via o doutorzinho do beco, o próprio beco, também muito similar ao beco do meu paipai, onde ia por anos...via a Cardinal, que me reportava à Cláudia Cardinale, amor platônico da adolescência (e hoje, sai a Cardinale mas segue a Cláudia; cria já da Tetê)... via "a coisa" da Marie etc e tal...mas sempre como apenas um leitor. Ainda não havia acontecido a mágica, ou insigth, que depois viria a conhecer no filme "História Sem Fim", onde o menino entra no livro e na história. Onde a história ali contada passa a ser a história dele.

Ainda faltava um pouco de chão! Um tanto ainda de uma dor desmedida, por um amor-próprio ainda capenga. Mais desejado do que conquistado. Mas nunca abandonei o desejo. Queria mais do que flertar comigo mesmo. Queria amar-me simplesmente!

Assim, e já por conta da Tetê (que viria a nascer uns 15 ou 16 anos depois), passei vinte anos indicando o livro para um ou outro, achando que pudesse de certa forma ajudar este um ou outro, mas sem nunca relê-lo. Até para a minha terapeuta eu emprestei o "Palavras". Ela sorveu cada palavra, cada parágrafo, por uns tantos meses, até devolvê-lo, com todos os elogios que o livro de fato merece. A Mimi sabe das coisas. Reconhece o que é bom. E adora participar e acompanhar os nascimentos de boas pessoas. Ela ama partilhar o amor! Diria até que ela é uma profissional neste quesito!

Mas, da minha parte, ele voltou para a estante mais próxima!

Até que, começando o ano de 2017, indico-o novamente, agora para alguém que "descobri" por mais um acaso da Tetê, e para quem alcunhei de "sócia", por razões perdidas e mundanas lá pelo final dos anos 70 ou início dos anos 80!

Indiquei-o então para a "sócia", que o comprou (não foi escancaradamente surpresa mas, adorei que ela tivesse comprado sem demoras) e, diferente de todas as outras vezes, resolvi relê-lo!

Na falta de melhores e mais pudicas palavras....CARALHO!!!

Entrei no livro, agora de corpo e alma! Encontrei-me no livro, de corpo e alma. Cada parágrafo, cada capítulo, cada "crise" da autora, espelha fielmente as "n" passagens pelas quais já passei. Fosse eu do sexo feminino, com certeza também teria tido minha metrorragia incurável!

Cada queda, cada surto, choro, espanto, medo, retrocesso, trauma ...é também do Paulo. Parece que a autora está fazendo a minha biografia; ou ao menos relatando, de forma dura mas poeticamente, também a minha jornada pelos becos sem saída, seja com meu paipai Cyro ou agora com a querida Mimi.

Mas, e agora chegou a hora desta palavrinha tão dúbia vir para abrir novos e melhores horizontes, cada avanço dela, cada conquista, descoberta, entendimento e ganho do amor-próprio também é do Paulo.

Junto paipai Cyro, Mimi, Pondé, Clóvis, Zé da Silva, Maria Benedita, facebook, o céu azul aqui em meu canto, o outro livro comprado (por indicação/sugestão do Pondé), o pigarro que ainda não foi embora, minha filha no zap falando sobre a mãe,  o Word que quis, na hora de  digitar este texto dar tilti (tive que instalar um mais moderno; foi o ganho pós-derrota), meu chocolate lá pelo Bairro e mais isso e mais aquilo e aquilo outro e ainda o tanto que ainda não veio, e volto pro prumo.

Aquieto-me...dizendo palavras!

Assim, nutro a minha alma!





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