16 de jan. de 2014

O Tempo de cada um



Lembro-me que, em minha adolescência e começando com meus namoricos, houve o casamento do Dener (costureiro famoso da época) com a Maria Stella Splendore, da high-society. Tempos depois (que não me recordo qto foi) veio a separação, o término e o divórcio. Lembro-me muito bem dos comentários que minha mãe fazia quando o assunto era este. Os dois (ex) pombinhos fizeram questão de promover uma festa, com o mesmo glamour da feita qdo do casamento, convidando a mesma lista de convidados do casório, para comemorar o FIM da história dos dois como casal. Minha mãe dizia que eles sim tinham uma cabeça avançada pois achava super natural que os dois juntassem para uma outra festa, os mesmos amigos que antes haviam sido convidados para o casório. O casamento acabou? Viva, vamos comemorar este novo momento então!! O Rei morreu? Viva o Rei!!

Ouvia tudo aquilo, ainda dando meus primeiros passos no quesito "relacionamentos", e até achava que sim, que "boas e avançadas" (?) cabeças deveriam agir assim tanto no momento mais sublime da aproximação qto no triste momento de dizer adeus. Hoje, com meus 61 aninhos vividos, sigo, "a priori", de acordo que assim deveriam  acabar as histórias de amor! Mas, porém, no entanto, contudo, todavia.....acho que, finda uma história, é imprescindível que haja um afastamento e um momento de luto, de um para com o outro, pois minha "modernidade" não chega a ser de nenhum Dener. Principalmente se no ocaso da história, fatos e acontecimentos aconteceram que marcaram e/ou machucaram ou a um ou ao outro, ou a ambos! Sabemos muito bem que finais não ocorrem convidando o companheiro para um brinde à descoberta do nosso FIM. É necessário um tempo de recolhimento, (re)análise de tudo que se passou ou passaram juntos, relembrar bons e maus momentos etc e tal. É a famigerada análise nua e crua, se possível imparcial (extremamente difícil) de cada um fechar-se para balanço.

Sei de pessoas que ficaram de "luto" por 24 horas (ou menos) e outras que seguiram anos e anos (até algumas décadas), carregando o mesmo luto. Cada um tem seu jeito próprio de seguir este dito "luto" e, principalmente, o tempo de vivenciá-lo.

Lembro-me tb de um livro lido qdo da separação do meu casamento de 11 anos, lá pelo final dos anos 80,  intitulado "A Arte De Separar-se"  (Edoardo Giusti) onde ele dizia, dentre outras coisas que, por mais óbvio que possa parecer, a maior dificuldade que os dois pombinhos encontram no período onde a crise acontece (com tempo variável, de caso prá caso), é a obviedade que ambos deveriam ter que... AQUELA HISTÓRIA ACABOU! Agora, caindo a ficha, com maior ou menor dificuldade de cada um de que aquela história acabou, convidar já na semana seguinte o ex para um cafézinho, um papo, uma troca de idéias ou algo do gênero, não é algo que vejo com bons olhos. A separação de fato, corporal e física, é algo necessário e imprescindível, até um enxergar o outro, com sinceridade absoluta (e não mascarada ou disfarçada), como um AMIGO que, em outros tempos, tocaram a vida juntos.

O meu tempo de luto é o MEU tempo. O que faço enquanto ele transcorre tb é de plena responsabilidade minha e só minha. Não gosto de ouvir, em minhas fases de transição, expressões como a famigerada DESDE QUE pois, se eu pudesse, baniria esta expressão, para sempre,  do dicionário. Isto dá margem a frases do tipo:

"respeitarei seu luto.....DESDE QUE....."

"tenha o tempo que quiser de luto...DESDE QUE...."

" faça o que quiser durante seu luto...DESDE QUE...."

"curta seu luto em paz e no sossego, DESDE QUE...

"durante o seu luto faça tudo aquilo que quiser e encontre-se com quem quiser...DESDE QUE..."

É uma enxurrada de condicionais e condicionantes que muito me incomodam!

Muitos enxergam isso como "luto não resolvido", "querer tapar o sol com a peneira", "negar o óbvio" ou, ainda pior, dizer que qdo ajo como ajo estou dando claras demonstrações de que não estou nada resolvido sobre o caso acabado! Que sigo em luto, doído, magoado, ressentido, vingativo, desleal, covarde, mesquinho, imaturo, ridículo, crápula, etc e tal. Que, mais uma vez, sigo mentindo para o mundo e para mim mesmo! 

Cansei de ser analisado pelos outros e dar ouvido a análises viciosas, tendenciosas e suspeitas!

Como é de fato minha intenção seguir 2014 pautando-me exclusivamente pelos meus desejos maiores, se meu tempo de recolhimento, ou o nome que se queira dar, cheirar aos outros fraqueza, medo, insegurança, deslealdade, injustiça, imaturidade, safadeza pura ou covardia...deixo o aroma destes cheiros para quem assim sentiu. Se no meu período QUERO isso e NÃO QUERO aquilo, assim será! Não quero aplausos ou vaias; sorrisos ou caras carrancudas, elogios ou xingamentos; só quero respeito às minhas decisões, pelas quais só eu respondo; e para mim mesmo!


Neste meu momento, quero e desejo estar próximo de uns e outros e quero e desejo também, manter a devida distância de uns e outros. Que as consequências que estas minhas posturas virão a  ocasionar...sejam as consequências que elas me ocasionarão. Básico, como diria meu "paipai psicanalítico" Cyro!

Respeitar o tempo do outro, seja qto for este tempo e seja como o outro leva e vive este tempo, isso sim é prova de que mágoas não ficaram como uma pedrinha lá no fundo  da sola do sapato! Que cada um seja dono exclusivo do seu tempo e do(s) seu(s) luto(s)! Que este novo tempo/período transcorra na paz possível. Para todos!

No tempo certo, no momento certo, nos veremos livres dos nossos lutos. Mas mágoas já não as trago mais!


Um comentário:

Anônimo disse...

Meu tempo é quando....