17 de nov. de 2013

Hoje sou eu que estou no meu retrato



Este vou deixar do jeitinho que postei em meu Youtube, em 15/07/2012. Sem tirar nem pôr.

Do jeitinho que estava, falava, pensava e agia, nesta data! Com uma ajudazinha do Fernando Pessoa.

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Sei que terminarei meus dias, deitado, como todos nós!! Mas agora não. Ainda não. Só quando de fato tudo acabar, deitarei. Por ora...endireitando a cabeça! (rs)

Hoje sou eu que estou no meu retrato


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          A alma humana é vítima tão inevitável da dor que sofre a dor da surpresa dolorosa, mesmo com o que devia esperar. Tal homem, que toda a vida falou da inconstância e da volubilidade feminina como de coisas naturais e típicas, terá toda a angústia da surpresa triste quando se encontre traído em amor - tal qual, não outro, como se tivesse sempre tido por dogma ou esperança a fidelidade e a firmeza da mulher.

            Tal outro, que tem tudo por oco e vazio, sentirá como um raio súbito a descoberta de que têm por nada o que escreve, ou que é estéril o seu esforço por ensinar ou que é falsa a comunicabilidade da sua emoção.

              Não há que crer que os homens, a quem estes desastres acontecem, e outros desastres como estes, houvessem sido pouco sinceros nas coisas que disseram, ou que escreveram, e em cuja substância esses desastres eram previsíveis ou certos. Nada tem a sinceridade da afirmação inteligente com a naturalidade da afirmação espontânea. E isto parece poder ser assim, a alma parece poder assim ter surpresas, só para que a dor lhe não falte, o opróbrio não deixe de lhe caber, a mágoa não lhe escasseie como quinhão / igualitário / na vida. Todos somos iguais na capacidade para o erro e para o sofrimento. Só não passa quem não sente; e os mais altos, os mais nobres, os mais previdentes, são os que vêm a passar e a sofrer do que previam e do que desdenhavam. É a isto que se chama a Vida.

(Fernando Pessoa  -  Livro do Desassossego)

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