25 de nov. de 2013

Meu balaio de gatos... e de sapos





Dois dias atrás, recebi um e-mail da amiga Sofia, dizendo que andava me sentindo, e me vendo, nostálgico. Vi e li doçura qdo ela resolveu chamar-me assim.
Menos de 48 horas depois, recebi outro e-mail, que não era da Sofia, tb dizendo que andava me sentindo, e me vendo, nostálgico. Vi e li amargura neste outro e-mail.
Mais uma vez, uma mesma palavra mostrou poder ter interpretações opostas, dependendo de como vc a lê e vê. Nostálgico como doce, ou nostálgico como alguém que só vive do passado. No pejorativo uso da doce palavra “nostálgico”.
Então, mais uma vez, mergulhei de cabeça, como vem sendo há 61 anos, no meu querer entender um pouco mais o Paulo. Tive que, para isso e, mais uma vez, inquietar-me. Este é o meu jeito de tentar entender as coisas que me piram.
Como posso ser chamado de nostálgico e ver, neste simples fato, doçura de um lado e amargura de outro?

Pronto: voltei, nostalgicamente, a mil bobagens que, desde 09/07/52, fazem com que me veja nostálgico. Bobagens que chegam até mim pelos mais diversos caminhos. Seja uma música, um livro, uma frase, um para-choque de caminhão, uma foto etc e tal
Coisas e bobagens do tipo:

“A Insustentável Leveza Do Ser” (Kundera) Como pode, algo que é leve, ser insustentável?
“Te perdôo por te traíres  (NR e Chico) Como assim TE perdôo? Não seria ME? Ou então por ME traíres?
“O poeta é um fingidor. Finge tão.....” (FP) – Afinal, o poeta é ou não é um fingidor?
Um surdo-mudo de nascença, pensa? (esta é minha mesmo) Como?
Como pode o ser humano, que tem a morte como a única certeza de sua vida, desperdiçar sua vida toda, buscando certezas mil por aí, e seguir não aceitando, para todo o sempre, a única que nem precisaria buscar, já que a nossa morte já começa no dia que nascemos? (Freud/Tanathos)
Serei eu um ótimo pessimista ou um péssimo otimista?
Antigamente eu era um cara cheio de dúvidas. Hj já não tenho mais certeza (Pauleca, minha filha)
Como o Steve Wonder consegue fazer um álbum, um maravilhoso álbum, intitulado “The Secret Life of The Plants”, lírico até o último fio de cabelo, se nasceu cego e nunca viu, e nem verá, uma planta? Pode tocá-la, cheirá-la e tudo mais. Mas nunca irá vê-la.
Amamos com muito ódio e odiamos com muito amor? (tb minha)
Sou Príncipe e Princesa ao mesmo tempo? (FP II – Eros e Psiquê)
Como assim, "não tenho fé suficiente para ser ateu, pois Deus não joga dados..." (Einstein). Como assim?
Pq as pesquisas seguem apontando que 75% das pessoas ainda não acreditam que foi o Marcelinho, garoto de 12 anos, quem matou a família e depois se matou?
“To be or not to be” (Hamlet) – Das duas uma, carinha; ou é ou deixa de “é”. Não é?
Como pode o topo da cadeia alimentar da Natureza, ter orgulho de ser o “topo” qdo, na verdade, ele é absolutamente dispensável e insignificante, justamente por ser o topo (maiores detalhes em meu outro texto aqui do blog, chamado Papo Cabeça)?
Como um cego de nascença sabe que já completou sua higiene pessoal, depois de defecar? (Guto, meu gozador filho)
Pq o Saramago não gosta de usar parágrafos e nem de ser traduzido?
Pq costumo dizer que "vc pode ter certeza de que tudo aquilo que eu te falo eu penso,  mas nunca te falarei tudo que eu penso?"

Esta última até que consegui responder, e muito bem, para mim mesmo: "Pq, simplesmente, a morte chegará antes; ou a sua, ou a minha. Pq sou mortal. Vc é mortal. Pq somos todos mortais. Não haverá tempo cronológico para que eu te diga tudo que penso. É básico"

São tantos e tão tolos os meus "como pode?" e meus  "por quês?", que formam mesmo um balaio de gatos.

Mas voltemos ao que eu dizia sobre o meu domingo. Foi um maravilhoso e mágico domingo, partilhado com a Ka em seu começo meio e fim. Onde falei o dia todo. Não parei um segundo sequer. A Ka junto, tb falando aqui e ali, e sempre junto. Falamos de tudo. Tudo que foi possível. De todos. Como diria o filósofo Clóvis de Barros Filho, exercemos plenamente o nosso direito ao ócio.

Ócio = pensar  

Negócio = negação do ócio. O não pensar.

Fizemos um negócio? Negócio fechado? Então tá. Não falaremos mais sobre isso, já que fechamos nosso negócio.

Aí, vem a Ka, em nosso maravilhoso “ócio” e começa a ler uma loooooonga explanação do Gikovate (que tb eu mto admiro) sobre a difícil pergunta que alguém um dia fez e soltou na roda:

“Por que os Príncipes viram sapos?”

E o Gikovate falava e falava e falava e falava. Ouvi tudo que a Ka ia lendo. Com atenção.Verdade.

Qdo ela terminou eu disse, na lata: “porra, como ele foi prolixo. Responderei em uma frase esta questão toda (com a permissão, o apoio e a concordância do Cyro)

“- Por que os Príncipes viram sapos? Pq só existiam sapos para que os Príncipes vissem”!

QUIS ler o “viram” do Gikovate, como um tempo do verbo VER. Básico, meu pai Cyro! Dos meus delírios e loucuras cuido eu. Se quero ler viram, do verbo ver, é problema meu. Só meu.

Fui p/ casa e abri meu e-mail. Encontrei lá o e-mail onde li e vi amargura.

Meu balaio seguiu quieto. Cheio de gatos (até o talo, como sempre foi) e agora tb cheio de sapos. Mesmo assim, seguiu quieto. Todos eles, gatos e sapos, estavam (e seguirão) ali, dormindo. Quietos. Seguirão sendo meu nostálgico balaio.

Fui nostálgico, como gosto de ser.

Confirmei meu (bem)querer: seguir morrendo um pouco a cada dia, feliz comigo mesmo. QUIS esta opção. Gosto de mim!

Hoje sou eu que estou no meu retrato.

Guardei o e-mail da Sofia.




Nenhum comentário: