27 de nov. de 2013

E agora, José?




E agora, José?

A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio  e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
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E agora, José?

Foi o que perguntou o Carlos, quando deparou-se com uma pedra no meio do caminho. Na verdade, nem foi só o Carlos, ou João, ou mesmo o Antonio que fez tal pergunta. Foi uma Quadrilha inteira que por lá caminhava. Sobrou pro coitado do José...

Mas, sem divagações:

Ontem, em uma das perícias que fiz, estava à minha frente uma psicóloga que portava um atestado médico, devidamente assinado por um profissional e sobre o qual eu deveria dar o meu parecer. Afinal, ganho prá isso!

Pois bem. Conversa daqui, conversa dali, ela começou a fazer uma breve explanação sobre seu tempo de estudo, qdo fez sua Psicologia. Então começou a dizer que, qdo passou pela cadeira da ÉTICA, aprendeu isso, aquilo e aquilo outro sobre esta tal de ÉTICA e que, em decorrência deste seu aprendizado ela, em seu dia a dia como Psicóloga, aceita 100% das vezes, como a mais pura e inquestionável verdade, qualquer atestado e/ou documento médico assinado por qquer profissional, que porventura caia em suas mãos. Seria anti-ético não aceitá-lo, disse-me ela!

Falante que estou, estiquei a prosa em dois minutinhos extras, além do que seria o meu, digamos, habitual de antanho.

Trago aqui estes dois dedinhos a mais de prosa que tive com a citada.

Legal vc portar-se convicta de que suas posturas são pautadas pela ÉTICA. Folgo em saber(rs). Muito bom que vc assim aja! Seguirá, imagino, com sua consciência tranqüila.

Mas, antes de agir com ÉTICA, deveríamos definir o que vem a ser esta “coisa”, não acha?

Foi o primeiro “e agora, José” que joguei ao seu colo.

Mas, o tempo “ruge” e se quisermos esmiuçar tudo aqui desta perícia, passaremos algumas horas, no mínimo, tentando chegar a alguma conclusão, se chegarmos!

Vamos deixar de lado então, mesmo que momentaneamente, o conceito de ÉTICA.
Meu Conselho, o CRM, assim como todos os Conselhos profissionais, todos eles possuem seu Código de Ética. Resta-nos seguí-lo, se quisermos ser pessoinhas comportadas...e éticas! Pelo menos aos olhos dos Conselhos...seremos éticos. Por ora, vamos nos contentar por aí, ok?

Mas onde eu queria chegar de verdade, é o seguinte:

Estou eu lá em meu trampo, na minha “nobre” função de perito, onde devo periciar, que diz a obviedade que é o que faz um perito. Perito é aquele que pericia. Óbvio, não?

Periciando, de certa forma, "julgo", dou meu parecer, minha opinião, a “palavra final” sobre o caso à minha frente.

Esquisita e muito estranha esta função, esta presunção de julgar algo ou alguém, concorda? É fogo, maestro, como dizem os antigos. Fudeu, como dizem os moderninhos!

Mas, assim como os coveiros, lixeiros, embalsamadores de cadáveres, limpadores de caixa de gordura ou fossa negra e afins, alguém tem que fazer este papel, prá que a vida possa seguir. Em paz ou não, mas seguir. Do mesmo modo o Joaquim Barbosa e seus pares: precisam julgar. Não há como escapar. Regras e  leis  necessitam ter seu Juízes, assim como outros profissionais precisam fazer o “trabalho sujo” para que a vida siga. Elementar.

Voltando à Psicóloga à minha frente:

Ok, entendido. Sua ÉTICA faz com que vc, em sua vida profissional, nunca questione um documento médico assinado por fulano ou beltrano. Muito bem, vc seguiu sendo ética. Porém, quero agora jogá-la na fogueira. Digamos que o documento médico jogado em meu colo diga X e aí, eu, médico-perito, com os meus valores, decida/conclua Y. Decidirei, concluirei e...assinarei. Ele passará, automaticamente, a ser tb ele um documento/parecer médico; assinado e carimbado, com meu CRM e tudo! Aí, só de sacanagem, devolvo estes dois atestado para vc, cara e ética Psicóloga. Quem afinal, está com a verdade?

Verdade? Defina-a! Ela existe? É uma só, para todos? Como alguém pode achar que a verdade existe e, ainda pior, sentir-se dono(a) de algo que não existe?? Como? Não captei, divino mestre!

Então, como vc agiria com estes dois documentos assinados, jogados em seu colo? Como vc faria se estivesse de porte de dois atestados médicos, com duas “conclusões” distintas, se a sua ética ensinou-a a não questionar NENHUM relatório, atestado ou parecer médico? E agora, José? Sentiu-se incomodada? Sorry, não foi minha intenção. Ou foi!

Onde quero chegar, afinal? Tentando não ser prolixo, para que estas minhas palavrinhas aqui não sigam pro lixo:

Uma coisa é vc seguir a “ética” dos Conselhos, das Leis do Joaquim Barbosa, dos filósofos, daquela aprendida nos bancos escolares, do Congresso Nacional (argh!) e afins.  Outra coisa  é vc simplesmente fazer aquilo que acha que deva fazer. Se fez o que achava que devia fazer, parabéns. Se o que fez foi acertado, correto, justo, sensato ou...ético, que algum José responda, caso queira.

A mim coube fazer a única coisa pela qual luto: fazer aquilo que quero!

Aceito pareceres e julgamentos contrários àquilo que fiz. Respondo por eles onde quer que seja. “Pago” por ter feito o que fiz. Posso ser condenado ou aplaudido por ter feito o que fiz, mas seguirei feliz comigo mesmo, com condenação ou aplausos, por simplesmente ter feito o que quis!

Já disse aqui no blog, e repito: Fi-lo porque qui-lo. 


Fazer o que acho que deva fazer, prá mim, a esta altura da minha vida, já virou pleonasmo. Faço o que quero.

Como o tempo segue “rugindo”, paro mais esta prosa por aqui.

E segue a vida, ou o baile; e sigo eu, na vida ou no baile, feliz por seguir fazendo o que quero!

Eu sou meu próprio Conselho, meu próprio Joaquim Barbosa, meu Congresso Nacional, minha Constituição, meu estatuto do Servidor (rs), meu “Ernane” (rs) e tudo mais. Tento fazer o juízo com meu próprio juízo, mesmo não sendo eu uma das pessoas mais ajuizadas(rs). Sigo meus valores maiores! Faço aquilo que acho que deva fazer. Básico!

Nada de prepotência: lógica...quase  cartesiana!


Deixo aqui, com vocês, vários Josés....e o Carlos (que é o da esquerda, na foto - rs)


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