26 de jul. de 2015

Vale a pena LER de novo


O texto que virá a seguir, já foi postado por mim aqui, em alguma data que, por pura falta de saco, nem fui procurar quando isso aconteceu. Até porque, vou repetí-lo e, além disso, na ocasião acho que coloquei só o texto, não me estendendo sobre o assunto.

Hoje quero falar um pouco mais sobre ele. Como outro dia pensei em abrir um tópico que se chamaria "Amor & Sexo", infelizmente sem a presença da Fernandinha Lima, mas que não vingou, falarei sobre ele. Este tal do séquiço" e ele nos relacionamentos amorosos. Ou ao menos nos pretensamente amorosos.

Sendo assim, quero "casar" o sexo com os relacionamentos de nossas vidas!

No fundo, logo de cara, vejo que ambos foram, muitas vezes, pedras no meu sapato. Me perdia tanto no terreno dos relacionamentos, qto no terreno do sexo, estivessem eles dois no mesmo barco ou não. Até porque, para o meu azar, a maioria das vezes eles navegavam em barcos distintos. Infelizmente.

Gosto e curto o sexo. Gosto e curto nosso lado sexual. Nossa sexualidade.  Gosto e curto a minha sexualidade mas, quem sabe que por excesso de minhocas nesta cabeça, muitas vezes acabava enfiando os pés pelas mãos, sem qualquer referência aqui a alguma nova posição do Kama-Sutra (rs)!

Como uma vez me perguntaram, na lata: "Paulo, você já foi p/ cama com todas as mulheres que desejou?" Eu, sem pestanejar, respondi: "Com todas as mulheres que desejei, com certeza não. Mas já fui p/ cama com algumas tantas que NÃO desejei!"

Perguntinha básica: se NÃO desejou, por que foi?

Pois é, a pergunta pode até ser básica, e é, mas a resposta.... é, para mim,  um enorme cipoal! É uma areia movediça onde não consigo me mover direito, ou quase nada. Onde não consigo caminhar. No máximo manter a cabeça para fora (tb sem referir-me aqui ao Kama-Sutra rs), para não ser dragado e sugado por ela!

Parecia que eu dicotomizava a coisa: sexo e relacionamentos amorosos são coisas distintas. Há até os defensores desta tese. Discutível tese. Gente até do porte do Gikovate (a quem admiro e sou fã) que diz que, os pombinhos apaixonados, quando vão p/ a cama, eles vão TREPAR! Depois da trepada eles voltam a ser pombinhos apaixonados.

Também tinha, em algum lugar desta louca cabecinha (sem Kama-Sutra aqui, gente. O papo é sério), que eu ainda tinha muito o que aprender sobre este binômio sexo & relacionamento. Lembro-me muito bem de uma passagem do livro "Sexus", do Henry Miller, onde eu via que cada parágrafo ali estava sendo escrito para o Paulo. Cada parágrafo ali estava falando (na verdade dando o maior esporro) com o Paulo.

Este esporro eu levei no longínquo ano de oitenta e qquer coisa. Faz tempo pacas! Nunca me senti tão esculachado lendo um "mero" livro.

Para meu azar (parte 2), não me modifiquei tanto quanto gostaria de ter me modificado, dos anos 80 até beirar meus 63 aninhos. Ou seja, até os dias atuais. Até este ano de 2015 que veio p/ ser o marco da minha mudança.

Mas, voltando ao texto que virá a seguir: concordo com ele em gênero, número e grau! O tesão e o prazer que o sexo nos proporciona, que é um fato, vai adquirindo outra roupagem quando você olha mais prá frente. Quando você faz um exercício de imaginação, vendo-se chegar à velhice! Com crase ou sem. Vendo chegar a velhice. Salvo quem o "hómi" chamar antes, todos chegaremos nela. Ela chegará para todos nós!

Aí, meu amiguinho, quem será o/a parceiro/a ideal para você? Aquele que tem tesão em manter com você uma conversa sem fim. Aquele parceiro perfeito para uma partida de frescobol. Aquele que  faz o outro rir; que ri junto. Que se divertem juntos! Aquele que traz leveza para a nossa alma! Um parceiro lúdico, leve, ligth, brincalhão e absolutamente sério!

Quantas tolas partidas de tênis jogamos em nossas vidas! Quanto desperdício de aparentes e enganosas vitórias vamos acumulando em nossas vidas! Quão pouco jogamos frescobol! Quão pouco cuidamos, com o maior carinho, do(s) sonho(s) do outro!

Faltando o tesão do conversar, o que sobrará?

Ou, como já dizia o "velho Cyro" meu paipai do divã:

" - Os dois, estando em um bom dia, em um dia iluminado, terão um sexo esplêndido, por uma hora. Sessenta minutos do mais puro prazer. E??? E as outras 23 horas do dia??? Espera, pacientemente, chegar o novo momento iluminado??

Trocar 23 por 1 não me parece ser algo vantajoso.

Sigo curtindo o sexo. Concordo também com o Millôr quando ele diz que..." de todas as aberrações sexuais, a abstinência é a mais estranha!"


Mas ainda quero viver um dia de 24 horas. Um dia onde eu some 23 mais 1!

Quero jogar muito frescobol!!

Me ver novamente jogando tênis? Ganhar Roland Garros? Derrotar o outro?

Dá uma pena ver de novo!!

Deixo pro Guga. É a praia dele!




Sem mais delongas, segue aqui o texto que me "inspirou" esta prosa.

Ao texto.

XERAZADE


Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os casamentos são de dois tipos: há os do tipo tênis e os do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietszche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a velhice? Tudo o mais no casamento é transitório mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar”.
Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente. Terminam na morte, como no filme “Império dos sentidos”. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor não mais se podia dizer através dele, Xerazade o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. Há carinhos que se fazem com o corpo e há os que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: “Eu te amo, eu te amo...Barthes advertia:”Passada  primeira confissão “”eu te amo”” não quer dizer mais nada”. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: Erótica é a alma”!
         O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva que indica o seu objetivo sádico, que é de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza do outro.
         O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e quem recebe faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como a ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
         A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
         Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.
         Camus anotava no seu diário pequenos fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos Primeiros cadernos, é sobre esse jogo de tênis:
         “Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem um valor e gosta de brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: “não se faça mais de estúpido do que é, meu amigo.”
         Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como uma bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
         Já no frescobol é diferente: o  sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
        
        

(Rubem Alves – Psicanalista e escritor)

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* No próximo post, seguirei +/- na mesma linha, colocando ali uma breve análise de um dos últimos livros lançado pelo aqui citado Flávio Gikovate. Quem gostar do tema, sugiro a leitura!

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