13 de mai. de 2015

Ensaio sobre a cegueira



Li mais esta obra-prima do Saramago, por volta de dois mil e pouco (não me recordo da data exata) e lembro-me perfeitamente desta frase que (acho) estava no prefácio:

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”

Ela me chamou a atenção na mesma hora. Acordei para a distância enorme que existe entre VER e REPARAR. Muitas vezes vemos mas não reparamos. Simplesmente “vemos”. Um estímulo que alcança a nossa retina, é decifrada como algo (objeto, lugar, pessoa) e nada mais do que isso.

Amei o livro. Pesado, (hiper)carregado, assustador, mas poético. Ao final, uma única pessoa que não foi afetada pela cegueira, conseguiu reverter toda a situação. O ser humano estava salvo da sua mediocridade e cegueira!

Lembro-me agora (neste exato instante), de outro livro e outra passagem do Saramago. É uma passagem do livro “A Caverna” (acho que o mais lírico dele) onde em um certo instante, estão pai e filha caminhando por um lugar ermo, afastado e desconhecido deles, quando encontram um cão andando por ali. Pai e filha resolvem então que vão pegá-lo e adotá-lo, já que aquele encontro não foi uma mera casualidade. Ele aconteceu por algum motivo e alguma razão.

Assim eles fazem: retornam da caminhada com a companhia do cão. Durante a caminhada, ficam combinando que nome eles darão ao cão. Um deles (não me recordo se o pai ou a filha) sugere que ele se chame PERDIDO, pois era desta forma que ele(a) via o cão. O outro, que além de enxergar, reparou, discordou e disse que ele deveria chamar-se ACHADO, já que, perdidos estavam eles dois, no meio daquele nada e sem vida. Encontrar aquele cão, naquele lugar perdido, rodeado de nada, foi nada mais nada menos do que um enorme ACHADO.

A nossa vida é permeada de acontecidos como esse. A vida sempre nos reserva surpresas; tanto boas qto outras nem tanto. Ou até mesmo doloridas e que nos derrubam. Mas ao mesmo tempo é interessante notar que as surpresas desagradáveis, com muita facilidade nos marca, deixa cicatrizes que demorarm tanto p/ desaparecer (ou até ficam para sempre), enquanto que as boas surpresas nos agradam, nos enchem de alegria, nos faz um bem tremendo...e depois se vão, deixando, no máximo, uma lembrança gostosa e nostálgica de um breve momento onde estivemos bem. Não é do nosso feito dizer que temos “cicatrizes” de momentos memoráveis. Estes momentos são curtidos quando ocorrem...e depois se dissipam rapidamente no ar! Estranha mais esta nossa faceta, né não?

Assim como li certa vez em um livro do Gikovate (Ensaio –outro,  mas que não é do Saramago rs Sobre O Amor E A Solidão) onde ele diz que, em sua vasta e longa experiência, cansou de ver gente que, ao ler o que ele Gikovate diz sobre o assunto x, concorda em gênero, número e grau, se “convencendo” (com muitas aspas) que é mesmo aquilo que ele deve fazer com/em sua vida. Descobre a América, tal como Colombo. Mas depois, assim que a leitura termina e o(a) leitor(a) volta para a sua vidinha aqui de fora....segue fazendo o oposto daquilo que, meia-hora atrás, convenceu-se que era o certo e necessário.

Este leitor (a maioria de nós) assim age. Lê (enxerga) mas não pratica (repara).

Por tudo isso seguimos ainda em um mundo com tanta escuridão. Por isso ainda somos pegos de calça-curta. E assim, o nosso  Santo Graal seguirá em L.I.N.S.


Hora de acordar!!




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